2º EPISÓDIO - BRUNO VICTOR & MARCUS AZEVEDO
SOBRE BRUNO VICTOR E MARCUS AZEVEDO
Bruno Victor, 33 anos, é roteirista, diretor, curador, consultor e pesquisador formado em Audiovisual pela Universidade de Brasília e mestrando em Multimeios pela Unicamp. Foi finalista do Prêmio ABRA de roteiro em 2021. Dirigiu o curta Pirenopolynda (2023).
Marcus Azevedo, 42 anos, é diretor, roteirista, produtor e curador formado em Audiovisual e Mestre em Artes Visuais pela UnB. É professor da Secretaria de Educação do Distrito Federal.
Juntos, dirigiram os filmes Rumo (2022) e Afronte (2017).
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https://www.instagram.com/mv_mesquita/
https://www.instagram.com/afrontefaz/
INFORMAÇÕES
Este episódio foi gravado em 05/07/2024.
FICHA TÉCNICA
Realização e Produção: Respiro Filmes.
Roteiro, Pesquisa e Apresentação: Júlia Rios e Alan Rios.
Direção, Captação de Áudio, Edição e Mixagem de Som: Luiza Chagas.
Ideia Original e Produção: Heloísa Schons.
Produção Executiva: Bruna Lopes e Arthur Lima da Iroko Projetos.
Captação de Imagem: Romulo Aires da Ada Audiovisual.
Trilha: Pratanes.
Agradecimentos: D.A.C e Faculdade de Comunicação da UnB.
Agradecimentos especiais: Denise Moraes e Dione Moura.
Supervisão Artística: Júlia Rios e Luiza Chagas.
Edição de Cortes: Pupila Audiovisual e Fernanda Coutinho.
Gestão de Redes Sociais: Babi Pinheiro.
Transcrição e Legendagem dos Episódios: Vini Moreira e Anyelle Amarante.
Criação de Identidade Visual e Criação da Logo: Rodrigo Camargos.
Ilustração do Copo da Temporada: Daniel Freitas.
Este projeto foi realizado com recursos do Fundo de Apoio à Cultura do Distrito Federal.
TRANSCRIÇÃO DO EPISÓDIO
Júlia Rios: Antes da gente chamar nossos convidados, gostaríamos de te apresentar a locação de hoje. A gravação aconteceu na Universidade de Brasília (UnB), espaço presente no curta-metragem “Afronte” e pano de fundo do longa “Rumo”, ambos dirigidos pela nossa dupla. Bora conhecer nossos convidados.
[Música Instrumental]
Alan Rios: Oi, gente, este é o Podcast Respiro Filmes, um podcast sobre cineastas do Distrito Federal. Estamos no Spotify, Deezer e também no YouTube. Eu sou o Alan Rios.
Júlia Rios: Eu sou a Júlia Rios.
Alan Rios: E essa é a temporada de direção. E, hoje, a gente tem o prazer de receber Bruno Victor e Marcus Azevedo. Muito obrigado pela participação, muito obrigado por estarem aqui com a gente.
Bruno Victor: Eu que agradeço, obrigado pelo convite.
Marcus Azevedo: Obrigado pelo convite.
Alan Rios: Vamos falar um pouquinho deles, Júlia? Você tem a minibio deles para falar para quem ainda não conhece, mas vai conhecer hoje, que são poucas pessoas, mas fala.
Júlia Rios: Conheçam, gente! Vamos lá, vou falar do Bruno. Bruno Victor, 33 (trinta e três) anos, é roteirista, diretor, curador, consultor e pesquisador. Formado em Audiovisual pela Universidade de Brasília (UnB), e mestrando em Multimeios pela Unicamp (Universidade de Campinas). Foi finalista do prêmio ABRA (Associação Brasileira de Autores Roteiristas) de Roteiro em 2021.
Alan Rios: Isso, e o Marcus Azevedo, ele tem 42 (quarenta e dois) anos, é diretor, roteirista, produtor e curador, formado em Audiovisual e mestre em Artes Visuais pela UnB (Universidade de Brasília). É professor da Secretaria de Educação aqui do DF (Distrito Federal) também. E juntos vocês têm a produtora que é a Afronte Faz, isso? Tudo certo?
Bruno Victor: Exatamente.
Alan Rios: Perfeito, essa é a minibio profissional de vocês, né, Júlia?
Júlia Rios: Isso, a gente falou bem tecnicamente, mas a gente quer saber quem são vocês? Quem é o Bruno Victor? Quem é o Marcus Azevedo? Como familiares poderiam falar de vocês, ou amigos?
Bruno Victor: Eita.
Alan Rios: Já começa com essa pergunta bem simples. Uma pessoa próxima de vocês vai falar: “Nossa ele é assim, assim, assim”. Como é que eles falariam de vocês?
Bruno Victor: Ah só elogios, com certeza. Zero queixas.
Alan Rios: Mas, e aí, como vocês se apresentam fora do profissional? Fora do cinema?
Bruno Victor: Certo, é meio complicado porque acho que trabalhar com cinema acaba que fica em um lugar que você vive isso. Você meio que não desvincula o cinema da vida. Então, o tempo inteiro parece que a gente está em trabalho, vivendo, respirando cinema. Então é meio difícil… é até questão de terapia, que é esse lugar de quando você não está trabalhando, o que você faz? Geralmente cinema, vou para o cinema. Mas, eu não sei, acho que eu sou muito criativo. Então esse lugar da criação é um pouco terapêutico, um pouco no lugar de abstrair várias questões da vida. Então, acho que eu não consigo separar essas duas pessoas do profissional e dessas vivências, porque eu acho que elas estão muito vinculadas. Eu acho que o nosso cinema também é, o nosso trabalho, tem esse lugar da autoetnografia, do autorretrato, então é muito difícil falar da subjetividade sendo que o nosso trabalho também é essa subjetividade. A gente não faz muitos trabalhos olhando coisas que não nos atravessam, acho que é uma característica da nossa produtora inclusive. Acho que são coisas que atravessam a gente.
Alan Rios: E você, Marcus?
Marcus Azevedo: Estou pensando aqui na verdade. (risadas)
Alan Rios: O bom quando a outra pessoa fala primeiro é que você pode ir pensando, né?
Marcus Azevedo: É, e eu fiquei pensando nessas coisas de, sei lá, sou geminiano.
Júlia Rios: Também sou.
Bruno Victor: Olha!
Marcus Azevedo: E aí eu sou bem geminiano, porque eu acho que algumas pessoas vão dizer que eu falo muito, mas eu me acho meio tímido. Eu sou muito isso, eu preciso do silêncio, mas ao mesmo tempo eu preciso do caos. Eu gosto de lidar com gente, mas tem dia que as pessoas me irritam. Então, eu acho que eu sou muito geminiano. Sou muito.
Bruno Victor: Eu te acho muito organizado também.
Marcus Azevedo: Sou muito organizado, isso eu sou. Eu preciso visualizar as coisas, na verdade. Eu acho até isso, no processo criativo. Eu tenho uma mente também de produtor, para entender como as coisas vão funcionar, para conseguir visualizar. Então é isso, como você falou cineastas do DF (Distrito Federal)… Eu não sou do DF, na verdade eu sou de São Gonçalo, região metropolitana do Rio (de Janeiro). Mas, vivo aqui há 13 (treze) anos, então o DF é um espaço na verdade, onde eu me formo nessa área do cinema. Então assim, é isso.
Alan Rios: Entendi, é uma boa definição pessoal. E agora profissionalmente, vamos supor que vocês estão em um evento do audiovisual e chega um empresário falando: “Nossa, eu adoro financiar novos projetos e tudo mais…”. E vocês vão se apresentar para essa pessoa. Como é que vocês se apresentam profissionalmente?
Bruno Victor: Nossa. Quanto dinheiro ele tem? (risadas) Eu posso mentir. (risos) Eu estava refletindo ontem sobre esse processo de estar aqui, rememorar um monte de coisa e eu fiquei pensando muito. Eu espero que eu esteja muito longe do auge da minha carreira. Eu me entendo enquanto um cineasta em início de carreira, início, meio, pensando que a definição seria um longa. Então, a gente já tem um longa, a gente tem curta. Meu maior medo era ter só um único filme. Eu tinha muito medo de ter apenas um filme. Mas hoje eu compreendo que eu sou um profissional muito multifacetado, até pelas condições do mercado audiovisual, onde a gente precisa ter várias frentes, então, ao mesmo tempo que me formo enquanto pesquisador, eu tenho essa vertente também de estar na curadoria. Hoje eu trabalho principalmente com roteiro, escrevo roteiro para streamings agora. Tenho esse lugar de pesquisador também, de documentário. Eu acho que são várias frentes, e eu não consigo trabalhar com o que eu não gosto. É muito complicado porque às vezes a gente se coloca em um lugar de escassez, às vezes, porque a gente decide fazer um perfil da nossa carreira. Eu não sei se isso foi um encontro ou não, mas eu sempre trabalho, mesmo nos trabalhos mais comerciais, sempre trabalho tem a questão da raça, do gênero, da sexualidade… Ela sempre vem me encontrando. Então eu vejo que eu tenho me especializado muito nisso, ao mesmo tempo que eu não gostaria de ser rotulado apenas por isso. Eu quero ser visto enquanto um profissional que consegue também falar sobre diversas outras facetas do audiovisual, porque eu acho que às vezes a gente fica um pouco aprisionado em falar sobre as temáticas e não como a gente cria essas subjetividades, então como a gente pensa fotografia, como a gente pensa vários outros aspectos do cinema. Então a gente fica um pouco aqui no lugar mais social, às vezes, sendo que é importante, mas é uma parte. Eu não sei se deu para responder bem.
Alan Rios: Acho que o empresário ia ficar feliz.
Júlia Rios: Também acho.
Bruno Victor: Ah, eu espero… O meu Pix é… (risadas)
Alan Rios: E você, Marcus?
Marcus Azevedo: Eu acho que estou na mesma pegada do Bruno, inclusive é até um processo de você já chegar e se colocar como cineasta. É isso, eu também acho que eu me considero em início de carreira e tenho me juntado com outras pessoas e feito outros trabalhos em outras coisas, então não tem sido um processo constante o processo da direção, até porque é sempre um processo muito longo entre você começar a escrever um projeto e conseguir realizar. Então nada nunca é, pelo menos não tem sido para mim, uma coisa tão rápida. Então, eu acho que tem que ser um processo mental também esse de eu já me colocar como um cineasta e já chegar falando: “Eu tenho tal projeto aqui que é muito bom, então eu acho que você tem que investir no meu”. Então, é uma coisa a se pensar. Porque a gente tem andando para essas coisas dos pitchings e dos ambientes do mercado em que você se apresenta, né? Você dá o seu currículo, e é isso como o Bruno falou, a gente na verdade, o nosso currículo passa por diferentes áreas dentro do cinema e eu acho que isso mostra o quanto a gente pode realizar e, não sei, para mim isso mostra um pouco de peso de “cara eu acho que eles conseguem fazer um bom trabalho porque eles não estão só dirigindo”, na verdade no fundo, no fundo eu queria já estar com dez filmes aí produzidos. Mas é isso, também como o Bruno falou, também espero que aqui não esteja no auge da minha carreira. Imagina. Aí eu vou lembrar a Edileuza (Penha de Souza, entrevistada do terceiro episódio), ela fala muito: “Ah não, quando eu tiver nos 100 (cem) anos, eu ainda vou estar fazendo filme”. (risadas)
Júlia Rios: Maravilhosa.
Bruno Victor: Eu não duvido. Ela vai estar fazendo muitas coisas, ela não consegue fazer só uma coisa, né? Ela faz um milhão de coisas. Ela é outra pessoa que ensinou a gente a ser essa pessoa que tem várias frentes. Então eu vejo que é pensar o cinema do começo ao fim. Desde o roteiro até a janela (de distribuição), sabe? Eu acho que a Edileuza, ela pensa de uma forma circular, ancestral e todas as aulas dela eram em círculos. E, para mim, ela faz esse ciclo todo, ela faz desde o roteiro, até a pesquisa sobre os filmes, então ela faz o circuito inteiro, as janelas, a mostra. Então, acho que a gente também, como bons filhos de Edileuza, a gente segue o caminho dela nesse lugar assim, de ver que é muito importante a gente estar em todos esses lugares porque a gente vive em um processo de, infelizmente, de escassez. Eu acho que a gente ainda vive em um processo que ainda não é tão frutífero o cinema. Então é abrir essas frentes, tanto enquanto pesquisador, quanto formação de público, exercitar o olhar dos outros, de crianças, de jovens, tudo faz parte do que a gente acredita enquanto cinema. Então não tem como a gente fazer só uma coisa, porque ainda não é permitido, acho que ainda não é um lugar confortável que a gente pode estar. A gente tem muito que fazer ainda e então esse lugar de ser multifacetado também, eu acho que vem muito desse lugar da escassez talvez, porque realmente se a gente não fizer, por exemplo, se a gente não escrever os ensaios sobre filmes que a gente admira, ninguém vai escrever e as pessoas vão ser esquecidas. Então, quando eu olho os arquivos, quando eu vejo os profissionais ali que estavam nos outros filmes, é como eu me ver também de alguma forma e ver pessoas que mesmo que eu nunca tive contato, mas ver essas pessoas me estimularam a também ser cineasta, então acho que é como se fosse um vínculo que eu acho que o cinema vai criando.
Alan Rios: Você falou de vínculo e antes você tinha falado que não trabalha com gente que você não gosta, né? (risadas) Para pegar essa relação entre essas duas coisas, esse vínculo esse trabalhar com pessoas que você gosta eu queria que vocês falassem um pouco da relação entre vocês dois. Como que vocês se conheceram? Como é a relação de vocês hoje?
Júlia Rios: Por que esse projeto de codireção? O que vocês acham que isso impacta positivamente o filme? E talvez se vocês têm combinados entre vocês, para fazer essa relação funcionar bem. Porque é isso, vocês estão dividindo ali a função, mas como é que são esses combinados, para fluir?
Bruno Victor: Somos monogâmicos (risadas).
Marcus Azevedo: Nem sempre.
Bruno Victor: É acontece uns deslizes (risadas). Mas fala aí, eu falei muito.
Marcus Azevedo: Ai, a gente se conheceu nos corredores aqui da UnB (Universidade de Brasília). Porque é isso, todo mundo tem dado esse discurso do quanto a Universidade tem muitos problemas, a Universidade é um ambiente que pode ser muito adoecedor, mas também ela é um ambiente de encontro. Na verdade eu e o Bruno a gente se encontrou enquanto a gente estudava aqui na UnB e a gente começou a fazer um monte de coisa junto, um monte de trabalho junto.
Alan Rios: Em que ano foi esse encontro?
Bruno Victor e Marcus Azevedo: Nossa…
Bruno Victor: 2012? 2012, 2013?
Alan Rios: A gente pode falar que é mais de dez anos.
Marcus Azevedo: É, 2013.
Bruno Victor: Nossa, meu Deus (risadas). Você tá velho, ein! (risadas)
Marcus Azevedo: Nem vem.
Júlia Rios: Mas e combinados, vocês têm no set? Alguma divisão de função? Alguma coisa assim?
Bruno Victor: Ah, é muito relativo. Eu acho que tem... por exemplo, no "Rumo" a gente teve que se dividir em alguns momentos, quando eram sets mais complicados, então a gente teve que, sei lá, eu ficava mais junto da fotografia enquanto o Marcus ficava mais junto do elenco. Então a gente fazia esse balanço porque realmente teve sets que eram, por exemplo, encontro 20 (vinte) anos depois do coletivo. Então, tinha muita coisa acontecendo, eram as pessoas chegando para fazer teste de Covid para ver se poderiam entrar. E a gente não sabia qual era a energia. Eram várias coisas, era a única oportunidade que a gente tinha para reunir essas pessoas, era o único dia que a gente tinha para aquele set. Era a primeira vez que a gente estava fazendo com um certo dinheiro. Então, era muita gente, era uma equipe muito grande, era uma equipe enorme de fotografia, a gente tinha cadeira de diretor, a gente nunca teve cadeira de diretor, então era uma coisa....
Marcus Azevedo: Tínhamos até monitor para olhar a cena.
Bruno Victor: Tinha até monitor! Então, não é que a gente combinava anteriormente, a gente via o fluxo, assim, a gente entendia como funcionava melhor, sabe? A gente vai vendo também, acho que tem coisa que eu gosto mais de fazer, Marcus gosta de outras coisas mais. Mas na escrita eu acho que tem muito um lugar da gente ir se complementando, sabe? E é muito bom, saudades de escrever coisas, porque é um processo muito bom também. Porque eu acho que é isso, um vai estimulando o outro, acho que tem muito esse lugar de energia. (Marcus concorda). Eu tenho, às vezes, uns processos catatônicos e aí o Marcus precisa me reerguer, e ele consegue muito me levar até o fim. Eu acho que eu sou muito... eu sou ariano e aí tem esse lugar do fogo inicial que às vezes tipo, gosto muito de abrir projetos, mas conseguir levar a diante, assim.
Marcus Azevedo: É que a gente é muito diferente, eu sou muito metódico, eu sou muito pontual, e o povo do cinema... mas é um geral, né? Vou deixar aqui explícito a minha crítica.
Bruno Victor: Coisas que magoam (risadas).
Marcus Azevedo: O cinema não é pontual, isso é um negócio que vai me angustiando profundamente. Então, eu sou a pessoa que vai mandar mensagem e falar “Gente, a gente marcou às nove então é às nove, entendeu?”. Então, eu acho que é isso.
Alan Rios: Você não é daquele tipo de pessoa que marca às nove para chegar às dez, né?
Bruno Victor: Eu chego às onze. (risadas)
Marcus Azevedo: Não, não sou, eu sou a pessoa que chega às nove, sabe? E eu acho que também foi nisso, acho que facilitou nosso processo todo foi também a gente lidar com pessoas que a gente gostava muito, que eu acho que isso foi uma vantagem, tanto no "Afronte", quanto no "Rumo". Uma que todo mundo estava com muita vontade de estar ali, muita vontade de fazer. Então, eu acho que todo o processo de troca foi muito grande e isso também permitiu com que a gente tivesse um pouco mais de liberdade, facilidade em não estar junto o tempo todo.
Bruno Victor: Porque é isso né, acho que igual você falou desse lugar do aprendizado no set, a gente também vai aprendendo, porque cada filme demanda uma forma de direção, de diálogo.
Alan Rios: Ah, bacana, e a gente vai falar especificamente sobre os trabalhos de vocês, mas vocês dois citaram o "Rumo" nas suas respostas, e o "Rumo" tem uma fala que é muito interessante que é sobre o empoderamento não ser uma coisa tão fácil assim, tão bela, tão linda (Bruno e Marcus concordam). O empoderamento é difícil, o empoderamento é uma coisa que traz muito peso para vocês, traz uma responsabilidade e os trabalhos de vocês, eles, como você falou desse lugar social, tem esse lugar social, tem esse empoderamento que é uma coisa difícil, mas no final, aí eu queria ouvir primeiro o Marcus começando a resposta para você ir pensando.
Bruno Victor: Ai, que bom. (risadas)
Alan Rios: Então, Marcus, vale a pena? Quando você vê o resultado daquilo que foi difícil, vale a pena?
Marcus Azevedo: Super, nossa, muito. Eu acho que hoje eu sou uma pessoa diferente, eu me posiciono diferente, eu sou um sujeito diferente no mundo também por conta do processo do "Afronte" e do "Rumo". Eu não sei como eu seria hoje sem ter conhecido o "Afrobixas" (coletivo LGBTQIAPN+ de pessoas negras), sem ter tido toda essa imersão nessas discussões que o "Afronte" trouxe para a gente.
Bruno Victor: Quando a gente coloca um pouco da nossa vivência na tela e isso tem um retorno, isso tem afeto. E um monte de pessoas, sei lá… Eu acho que é lindo e aterrorizante ver a quantidade de pessoas que acreditam no nosso trabalho e que botam muita fé, e que fazem, e que lutam. Tipo assim, eu vejo as meninas produtoras Bethania (Maia), Rê (Renata Schelb), Ju (Juliana Melo) que passam horas quebrando a cabeça tentando entender como que a gente vai fazer as coisas e aí a gente cria, e ao mesmo tempo todo mundo vai criando junto com a gente, sabe? E aí eu fico pensando “meu Deus, que maravilhoso que é, que feliz que hoje eu consigo dar um presente para minha mãe pelo meu trabalho no cinema”. Acho que é uma das coisas mais empoderadoras da vida é você trabalhar com o que você ama, e você olhar para sua mãe e levar para almoçar e falar “eu vou pagar”. São coisas muito simples, mas ao mesmo tempo, é inquestionável. É mais do que valer a pena, eu acho que é respiro mesmo. É o que me motiva mesmo, eu acho que é isso.
Júlia Rios: Gente, vocês falam coisas muito inspiradoras, é muito legal escutar vocês falando. Pensando nisso, queria ir nessa linha e perguntar o que inspira vocês? Que referências vocês têm nas artes em geral, para direção?
Marcus Azevedo: Atualmente eu acho que eu tenho tido de inspiração coisas que estão muito ligadas a mim, eu acho que desde sempre a ideia de falar sobre coisas que me afetavam. Eu acho que hoje a gente tem muito mais referências de pessoas que estão fazendo coisas que estão nesse mesmo caminho de reescrever essas histórias, recontar, criar outras personagens para pessoas negras, para pessoas LGBTs. Eu acho que estou indo atrás dessas referências. De como recontar coisas que antes, talvez, me incomodassem, quando fala de referências LGBTs, nossa, referências LGBTs e referências negras são muito doloridas. E aí eu fui conhecendo ao longo da minha vida pessoas que estão fazendo coisas que eu falo: "Caramba! Eu acho muito bom".
Bruno Victor: Eu estava pensando aqui que quando a gente foi lançar o "Afronte", a gente lançou o “Afronte” no Festival Universitário de Brasília e aí a gente conheceu o Juan (Rodrigues) (Marcus repete "O Juan, exato"). Ele estudava em Cachoeira e aí quando eu encontrei: “Caralho, outra bicha preta que faz cinema, que eu assisto o filme e eu me vejo no filme”. A inspiração está nesse diálogo, sabe? Que a gente vai criando essa rede. Acho que existe uma rede que a gente vai virando referência um do outro. Marcus é minha referência, me inspiro nele, me inspiro no Juan, me inspiro em pessoas que pensam o cinema de uma forma muito linda como o Heitor Augusto, Janaina Oliveira, Edileuza (Penha de Souza), eu me inspiro nas pessoas que estão próximas. Acho que às vezes é tão complicado a gente ficar buscando inspirações tão distantes da gente, sendo que a gente tá cercado de pessoas brilhantes o tempo inteiro e a gente tem que ficar olhando… Não que a gente não precise olhar, mas é isso, se a gente não fizer isso ninguém vai fazer, então acho que esse processo de me inspirar nos outros, eu acho que foi um exercício, e me ver também, me enxergar também como uma possibilidade de inspirar as outras pessoas foi um exercício que eu comecei a perceber depois que eu comecei a olhar o meu redor e ver que eu estou cercado de pessoas muito brilhantes. E que a gente está fazendo um momento muito importante do cinema.
Marcus Azevedo: No nosso caso aqui, a Universidade foi muito importante para isso, mas eu tenho percebido que têm se criado outros espaços. Eu tenho tido contato aqui no DF com o pessoal do Jovem de Expressão (programa com sede na cidade de Ceilândia com o objetivo de incentivar práticas saudáveis e empreendedoras entre a juventude periférica), eles têm criado uns coletivos, têm saído dali coletivos. Então é isso, aonde você vai encontrar sua galera? E eu acho muito legal, porque diferente de quando eu estava, lá atrás, dizendo que eu queria fazer cinema, eu acho que hoje é mais difícil você ouvir de alguém para buscar outra coisa “porque isso aí não vai dar em nada”, porque você vê um monte de gente fazendo, e pessoas que tem uma trajetória muito parecida com a sua. Eu acho que a APAN (Associação de Profissionais do Audiovisual Negro), e todo esse conhecimento do cinema negro que a gente teve, e a gente vai citar dez mil vezes a Edileuza (Penha de Souza), porque ela é essa referência que a gente teve aqui dentro da Universidade, a nossa referência desse debate sobre a discussão racial no cinema vem dela. (Bruno concorda). Não tem como falar outro nome, desses anos todos que a gente esteve aqui, ela foi a pessoa que nos mostrou: “Olha tem uma galera falando isso aqui, tem uma galera preta fazendo cinema há décadas, desde que o cinema está aqui”, então isso tudo vai criando essas fontes e essas inspirações.
Júlia Rios: Pensando nisso que você falou de estar junto com os próximos, valorizar as pessoas mais próximas, você citou a APAN também. Para contextualizar, a APAN é Associação de Profissionais do Audiovisual Negro. A gente queria saber sobre ela também, como ela ajuda vocês?
Bruno Victor e Marcus Azevedo: Nossa! (risadas)
Bruno Victor: Meu Deus, eu já dei muito trabalho para a APAN (risadas). Eu acho que, se eu não me engano, nós fomos um dos primeiros aqui do Centro-Oeste (Marcus concorda), que foi a Vivi (Viviane Ferreira) veio aqui e organizou, apresentou.
Marcus Azevedo: A Vivi fazia mestrado aqui na UnB na época que se abriu essa seção Centro-Oeste.
Bruno Victor: Sim, então foi muito nesse lugar também, desse mapeamento, acho que é muito importante o mapeamento que a APAN fez de mostrar que somos muitos, muitos e muitos profissionais pretos. E cada vez mais, sabe, e a grandeza que a APAN é hoje, o lugar do suporte, de consultorias, apoio jurídico. Por exemplo, eles forneceram uma quantia, porque no meu curta "Pirenopolynda" a gente sofreu algumas ameaças durante o set de filmagem, a gente estava muito exposto, então a APAN providenciou seguranças 24 horas para estarem lá com a gente. Então, ela é isso, é uma grande força mesmo, eu acho que ela é importantíssima para o cinema nacional e eu não falo só enquanto cinema negro, eu falo para o cinema nacional mesmo, enquanto as outras associações se inspirarem, né? A gente está falando tanto de inspiração, se inspirar muito em como a APAN funciona e como ela tem um pensamento mercadológico, como ela cataloga os filmes, como elas criam plataformas como a TodesPlay.
Marcus Azevedo: A Raio (Rede Audiovisual de Inclusão Orquestrada).
Bruno Victor: Exatamente, né? Como a gente consegue fazer uma organização do cinema nacional, porque a gente sabe que a gente não tem apoio popular. Então, a gente precisa estar sempre organizado porque os direitos do cinema, assim como qualquer área artística está sempre ameaçada, a cada quatro anos a gente sofre, às vezes nem é a cada quatro anos, né? Às vezes períodos muito menores, mas eu acho que esse lugar da APAN, mostrar que a gente precisa de uma organização, um movimento nacional. Ela é fundamental, eu acho que existe de fato um antes de depois da APAN na nossa vida, dos nossos projetos, sempre dispostos a ajudar da maneira que pode, selecionando bolsas, lutando para que profissionais negros entrem em mercados. Então é isso, atividades formativas, enfim, é muita coisa. E o fundamental, a gente vai se conhecendo.
Júlia Rios: E pensando ainda nessa questão das relações, até pensando como vocês se relacionam com a equipe, queria perguntar se vocês sentem que, como diretores, vocês têm que sempre ter resposta para tudo em um set, por exemplo. Como é essa relação com a equipe e essa questão dessa figura da direção?
Marcus Azevedo: Eu acho que não é resposta para tudo, é saber também o que você quer.
Bruno Victor: É, esse é o maior desafio. (risos)
Marcus Azevedo: O que eu tenho feito de exercício nesses últimos trabalhos é, na verdade, sempre quem está na direção tem que pelo menos ter uma visão muito já definida do filme que você quer. Porque vão ter sempre muitas questões e muitas pessoas muitas vezes duvidando daquilo que você está propondo. Você tem que saber que filme é o que você quer fazer, porque resposta para tudo não vai ter e num set são pessoas que você chamou para contribuir, formar o filme com você. Então assim, quem está na direção de fotografia, quem está na arte, são todas as pessoas que vão interferir diretamente naquilo que você tinha de visão. Então você tem que saber até que ponto de dizer: "Ah, gosto dessa ideia" e até que ponto falar: "Não, não, não é isso, não é o que eu estou imaginando, não é como vai ficar aqui o que eu quero no final". Então é isso, resposta para tudo não vai ter (risadas).
Bruno Victor: É mais dúvida do que resposta. Mas, acho que todo processo é sempre um mapeamento, eu acho que nossos roteiros eram grandes mapas. A gente sabia do que a gente queria falar, mas a gente não necessariamente sabia o que ia chegar ao ponto final ali, quando a gente se deparava com essas pessoas. Então, esse processo acho que é muito um lugar de mapear, pisar nesse terreno, voltar, analisar, chamar as pessoas para conversar, porque é todo um processo de diálogo o tempo inteiro. Esse processo de diálogo com a produção executiva, por exemplo, desse jogo, “olha você vai ter que voltar para o roteiro, você vai reescrever isso aqui, amore, porque não dá, então assim, sejam realistas”.
Marcus Azevedo: Entendendo que essa relação também é artística. (Bruno concorda). Porque muitas coisas quando são definidas, mas a nossa relação, por exemplo, com a Bethania (Maia) no "Rumo", ela também foi muito disso da Bethania também trazer coisas que iam acrescentar e impactar na parte artística, não era só o financeiro, então é o construir essa outra relação com quem está na sua equipe, quem está fazendo o filme com você.
Júlia Rios: E aí pensando nisso, para entrar na filmografia de vocês mais especificamente. Mas antes de falar dos filmes, acho que tem uma pergunta importante para fazer que é, pensando nos trabalhos de vocês juntos, sempre é um filme docficção, a mistura desses dois gêneros, a gente queria entender por que essa escolha e que potencialidades vocês veem nessa mistura?
Bruno Victor: Ai, porque assim, essas fronteiras do documentário e da ficção, eu não vejo muito mais sentido nela, sabe? Eu acho que tem um lugar que só a ficção não dá conta de certas coisas, de certos temas. Só o documentário também não dá. Acho que a gente precisa cada vez mais quebrar um pouco dessas barreiras, até para pensar nas artes visuais também, por que é tão distante? Por que a gente fica criando essas barreiras que só dificultam a nossa vida, né? E até para pensar o quanto a gente olha o documentário com o olhar… Falando, sinceramente, sobre dinheiro, por que existe essa ideia de que um documentário custa menos que a ficção sendo que existem linguagens documentais que elas são de arte, que elas exigem um trabalho de arte muito profundo, e que a gente não vê esse mesmo olhar para o documentário. E aí eu acho que esse hibridismo assim, vem muito desse lugar de estar buscando novas narrativas e novas formas de pensar o cinema. Então eu acho que quando a gente traz essas duas possibilidades de documentário e ficção, é muito para falar que a gente está criando novos... não criando né, a gente não está criando nada (risos), tudo já existe, mas assim, se apropriando de linguagens para contar uma versão nossa. E eu acho que esse exercício de fabular a realidade através da ficção, é um desejo muito bom, que nasceu muito de querer ver coisas que até nós já passamos em tela, por exemplo, mas que tem uma vertente documental. Falar de afetos e falar com uma excelência de arte, que às vezes a linguagem documental não dá conta, entendeu? E acho que a ficção vem para elevar esse processo fílmico. Então acho que é mais no lugar de complementar e enriquecer as narrativas, acho que é isso.
[Música Instrumental]
Júlia Rios: Então, gente, agora vamos falar dos trabalhos específicos de vocês. Vamos começar pelo "Afronte", de 2017, que é um curta de docficção feito por meio de financiamento coletivo na Benfeitoria. Hoje ele está disponível no YouTube. De prêmios, ele recebeu o prêmio Saruê do Correio Braziliense no Festival de Brasília; "Melhor Curta” no Festival Mix Brasil, em São Paulo; no Festival de Cinema do Paranoá; no For Rainbow no Ceará, no Goiânia Mostra Curtas pelo júri popular e "Melhor Documentário” na Expocon Centro Oeste. Também recebeu Menção Honrosa no FestUni (Festival Universitário) de Brasília, prêmio "Destaque Nacional” no Festival de Cinema Escolar de Alvorada no Rio Grande do Sul e prêmio "Beijo Livre de Direitos Humanos LGBT”. Além de ter recebido "Melhor Montagem” no festival de Brasília. “Afronte" também foi selecionado em outros 23 festivais percorrendo a América do Sul, América Central, América do Norte e Europa. E aí eu queria saber do que esse filme se trata? E o que que vocês pensaram dele esteticamente?
Marcus Azevedo: Bom, o “Afronte” é um docficção que trata sobre esse processo de autoconhecimento de uma personagem se reconhecendo enquanto um homem negro, se reconhecendo enquanto um homem gay dentro dessa sociedade do DF. E aí, ao longo dessa trajetória, ele também vai encontrando essas outras pessoas, personagens que o ajudam nesse processo de autoconhecimento. É entender que o processo coletivo, que é o que acontece com o “Afrobixas”, refletiu nele enquanto indivíduo, acho que é isso, né?
Bruno Victor: Sim.
Júlia Rios: E esteticamente?
Bruno Victor: Bom, a gente tinha uma certeza que a gente queria mostrar bixas pretas se amando. (Marcus concorda) e de uma forma que fosse plástica, uma forma que tivesse uma direção de arte pensada. A gente busca referências daqui do DF. Quando a gente estava falando lá no começo que eu falei das colchas de retalho, quando a gente pega referências e transforma em referências nossas. Tem uma cena específica do “Afronte” que era uma referência do Xavier Dolan, que era dos “Amores Imaginários”, que é a cena em que o VH (Victor Hugo, ator principal de “Afronte”) se apaixona pela Titia (Cinthia Santos, atriz coadjuvante de “Afronte”), né? E na referência dos “Amores Imaginários” quando essa figura aparece, a imagem dela é associada a estátuas gregas. E aí, no nosso filme, a gente trouxe os desenhos do Ricardo Caldeira para trazer outros referenciais de beleza, estética. Então, o “Afronte”, ele tem um aspecto que através do imagético a gente criar novas referências visuais. Então, tem essas imagens do Ricardo Caldeira, tem Ricardo Caldeira enquanto uma entidade da Pomba Gira, a gente quis trazer o imagético do Candomblé também para as nossas referências visuais ali. Então, acho que o “Afronte” foi muito um quadro onde a gente colocou diversas referências que a gente não tava vendo, sabe? Acho que o ponto estético dele veio muito nesse lugar, vamos dar destaque a essas possibilidades, vamos mostrar Brasília de outras formas, vamos mostrar a rodoviária, vamos mostrar esses lugares como pontos. É um filme de movimento, a gente quis trazer muito movimento, a gente quis mostrar o quanto precisa se deslocar para chegar em uma Universidade, para além de falar dos afetos, como que a gente se locomove por uma cidade que é tão hostil. Então acho que é um filme que a câmera está sempre andando, um filme que as pessoas estão em movimento, quando não estão dando depoimentos. E a gente também tem coisas interessantes que é mostrar a equipe, a gente tem um momento que o espelho mostra a equipe. Então acho que essas escolhas são escolhas políticas e estéticas.
Júlia Rios: Que massa. A gente até tinha uma pergunta também sobre isso de qual a importância de deslocar o cinema dessa bolha “Plano Pilotense”, né? (Bruno concorda) Mas acho que você contemplou isso. (risos)
Marcus Azevedo: A gente tem percebido isso até no próprio cinema brasiliense (Bruno concorda). O cinema do DF ele tem se deslocado. Eu acho que, nos últimos tempos, a gente tem produzido muita coisa fora dessa bolha, Plano Piloto. Eu acho que é a riqueza estética de narrativa que tem se criado aqui, é nesse deslocamento.
Bruno Victor: E isso é resultado de política pública também, né? A gente tem aí os FACs (Fundo de Apoio à Cultura) que precisam ser em outras regiões administrativas, também. O que faz com que tenham outros cineastas que queiram mostrar suas realidades também, né? Eu acho que durante muito tempo, o FAC ficou ali numa redoma onde a gente tinha poucas pessoas que sabiam escrever para editais. Então isso também influencia muito na produção, em que Brasília que a gente via nos cinemas. Então, acho que está ficando bem diferente. Ainda bem.
Marcus Azevedo: Cresceram muito, também, os espaços de produção aqui. Espaços em que saem essas mentes criativas. O IFB (Instituto Federal de Brasília) lá no Recanto (das Emas), o Jovem de Expressão (em Ceilândia). Tem crescido esses espaços de difusão mesmo, Motriz lá em Planaltina. Então, assim, a gente tem tido outros cantos aonde se produz e se consome, né? Eu acho que também tem que fugir disso, eu acho que é uma luta constante pela preservação e manutenção de um espaço como o Cine Brasília. Mas a gente também tem que começar a pensar em outros espaços porque as pessoas querem consumir e nem sempre vir pro Plano é uma opção.
Júlia Rios: Até o Festival de Brasília, também, né? Acontecendo em outras cidades, Complexo Cultural de Samambaia que exibe (Bruno e Marcus concordam). Então isso é bem importante.
Bruno Victor e Marcus Azevedo: Sim.
Júlia Rios: Beleza, agora seguindo para “Rumo” que é o longa metragem de vocês. Então, “Rumo” de 2022, é um docficção que tem financiamento do FAC (Fundo de Apoio à Cultura do Distrito Federal) e da Benfeitoria. Sobre os prêmios dele, no Festival de Brasília ganhou o "Melhor Filme” pelo júri popular e o "Prêmio Especial do Júri”, e também o "Prêmio Zózimo Bulbul”. Também ganhou “Menção Honrosa” e "Melhor Longa do Júri Popular” no Festival Guarnicê de Cinema no Maranhão, além de "Melhor Direção de Arte”. E também passou por pelo menos quatro outros festivais no Brasil com enfoque em cinema negro. Qual é a sinopse desse filme? Como vocês pensaram ele esteticamente?
Bruno Victor: Nossa, estou tentando lembrar a sinopse. (risadas)
Júlia Rios: Não precisa, eu perguntei a sinopse, mas vou até reformular.
Bruno Victor: Três linhas narrativas. Não, mas é isso eu acho que o “Rumo” fala sobre como a luta pela implementação das cotas raciais é uma luta ancestral, que ela vem muito antes (enfaticamente), vieram muitas pessoas antes da ideia da implementação das cotas raciais. E que é uma luta que é contínua. Hoje o “Rumo” mostra o quanto é importante a gente lutar pelas políticas de permanência, mostra como é um cotidiano de uma família preta que tenta entrar dentro de uma universidade. Quais são os sacrifícios, quais são os enfrentamentos dessa jornada que é um planejamento familiar ancestral, majoritariamente liderado por mulheres pretas. O “Rumo” tem um protagonismo da mulher preta implacável, eu acho que é isso, é mostrar realmente que é a mulher preta que move o mundo, né? (Marcus concorda). Eu acho que é isso, que a base do “Rumo” é a exaltação da força das mulheres pretas ali, desde o início até a Leni (Rabi, atriz de “Rumo”) botar o pé no IDA (Instituto de Artes Visuais da Universidade de Brasília). Acho que é isso.
Marcus Azevedo: E esteticamente a gente também pensou muito nisso, a gente pensou nos detalhes do porquê das entrevistas serem daquele jeito para também destacar os detalhes. É isso, a gente queria uma luz que valorizasse a textura do cabelo, uma luz que fosse feita para peles retintas. Então, tudo foi muito pensado. A gente queria que tivesse esse lado político e de resgate da memória do que aconteceu, mas a gente queria também juntar isso com o impacto que isso ia ter na vida de uma família que foi como a nossa. Então assim, a junção do documentário com o ficcional é justamente nessa ideia estética de entender que as coisas não estão alheias, elas vão ter impacto direto na vida das pessoas e a gente queria mostrar esse impacto, queria mostrar como essas relações iam ser alteradas com uma luta que o movimento negro estava trazendo, estava liderando. Porque há uma fala constante, e aí a gente não nega a importância da presença de algumas pessoas como o Zé Jorge, a Laura Segato, mas a gente tem que entender também todo esse contexto. De entender que já estava sendo debatido políticas, cotas lá em Durban e que tava a galera preta lá falando já, fazendo passeatas pelas cotas e que o Brasil era signatário de documentos onde as cotas já estavam presentes. Então assim, não se inventou a roda. Então tudo isso estava muito dentro e em um outro momento a gente, na verdade, o processo de memória foi sendo reinventado, porque na verdade o filme virou referência para o próprio filme, né? Porque aí já era a memória da Leni entrando na universidade, junto com essa memória que foi resgatada pelo próprio Enegrecer (Coletivo Nacional da Juventude Negra). Então esteticamente ele está dentro desse processo, e é isso que o Bruno falou antes, de entender que o documentário ele também te permite experimentos, também te permite entender que a memória tá desde a caminhada da população negra lá atrás, buscando os seus caminhos e que isso continua em outros moldes. Por isso que a gente vem desde lá da TV na mata, até ela na própria universidade, que é isso. Aí junta todos esses ciclos.
Júlia Rios: Como vocês conheceram a Leni Rabi e a Sierra Veloso, que são as protagonistas do filme?
Marcus Azevedo: Então, a gente conheceu a Leni (Rabi) por conta de um vídeo que o filho dela postou no Twitter. A gente já tinha a ideia do roteiro, a gente já estava, na verdade, pensando nessa história da família até que a gente viu o vídeo da Leni quando ela foi aprovada na UnB (Universidade de Brasília). E aí o Lennon (filho de Leni) fez um vídeo super legal dela vendo o resultado dela sendo aprovada. Aí, o Bruno mostrou o vídeo e eu disse: “Gente, a gente tem que conversar com essa mulher”. (risadas) (Bruno concorda) E a gente marcou uma tarde para conversar com a Leni, e assim, era uma conversa, teste de elenco, mas é isso, a Leni já era tudo aquilo que ela é. Ela era, ela já chega e toma o espaço. Todas as histórias estavam muito já dentro, o jeito dela falar, o jeito dela falar com o Lennon. A gente falava, é assim que a gente quer no filme. Então ela era essa pessoa. E a emoção que ela passava com o fato de ter sido aprovada no vestibular eu acho que era um fator a mais, porque não era simplesmente o vestibular, era mais, era um sonho de vida, o que refletia muito o que a gente queria mostrar no filme, porque na verdade as cotas possibilitaram muitos sonhos de vida, os nossos sonhos de vida. Então a Leni era isso, ela expressava isso no olhar, na fala, na alegria e na emoção que ela sentia, ao mesmo tempo em mostrar aquela história. E ela sempre teve muito orgulho desse vídeo, sabe? Então é isso, a Leni é essa pessoa que trouxe muita emoção em todos os momentos. Imagina, a gente terminou o set da primeira fase do “Rumo”, todo mundo chorando loucamente, porque a última coisa que a gente fez foi a entrevista com ela e ela contando, e ela falando, o que a gente até colocou no filme de “agora é a minha vez de realizar meu sonho”. Cara, assim, é isso, foi uma oportunidade única. Então, a Leni é essa essa pessoa, ela é esse esse fenômeno, ela é um fenômeno. E quando você conversa hoje com a Leni e pensa em tudo que ela já fez, tudo que ela construiu nesse tempo todo a gente tinha certeza que isso ia acontecer, tinha certeza. Porque, é isso, onde ela vai, ela é uma presença muito especial e eu acho que o filme é muito isso também por conta dela e da relação que ela construiu com a Sierra também, né? A Sierra é também atriz do filme, é outra personagem que faz a filha dela, então assim, também já era uma estrela na internet, o Instagram bombando. Então eu acho que ali na junção das duas, além de serem duas pessoas muito fortes, são duas pessoas muito bonitas. Então, a gente olhava ali na tela e falava: “gente como tá lindo isso”, como elas duas interagiram em cena de uma maneira muito natural. Então, a gente, eu acho que a gente conseguiu construir essa relação das duas de uma maneira muito bonita justamente por serem também duas atrizes já com muita vontade. A Glau (Soares), que o Bruno tinha falado antes, conseguiu em cada encontro que a gente tinha, ir extraindo delas cada vez mais e também elas entregavam muito. Então eu acho que a gente teve muita sorte também. (Bruno concorda).
[Música Instrumental]
Alan Rios: E a gente tem uma dinâmica desse podcast que é a dinâmica do bate e volta, que é aquela… (risadas) (falando com Bruno) você já tá sofrendo, né? Que é aquela hora que a gente faz algumas perguntas para respostas mais rápidas. A gente já conseguiu fazer um monte de reflexão aqui bem elaborada, só que agora a gente vai buscar aquele primeiro pensamento que vocês têm quando eu pergunto alguma coisa.
Bruno Victor: Ah, os pensamentos intrusivos. (risadas)
Alan Rios: E aqui você tá livre, é um ambiente tranquilo, você pode deixar os pensamentos intrusivos vencerem, tá tranquilo!
Bruno Victor: Não, tá gravando, não pode! (risadas)
Alan Rios: Mas eu queria começar perguntando de forma bem rápida e os dois podem responder. O que é cinema para vocês?
Bruno Victor: Vida.
Marcus Azevedo: Cinema é paixão, sofrimento, é trabalho, é isso, é vida.
Júlia Rios: E que livro que vocês recomendam sobre direção ou num geral?
Bruno Victor: “Temporada” do André Novais.
Marcus Azevedo: Nossa sei lá, eu acho que teve um que é esse que você (aponta para Júlia) estava falando da Dácia (Ibiapina) que ela leu quando ela foi professora, que foi aquele de teoria dos diretores que aí é o pensamento de vários diretores que ela tem esse livro até hoje. Então acho que esse é um livro que eu recomendo (“As Teorias dos Cineastas” de Jacques Aumont).
Alan Rios: E site para trabalho, tem algum que vocês usam bastante?
Bruno Victor: Google Docs (risadas). A gente trabalha muito, a gente não escreve roteiros em programas, porque como a gente está longe um do outro, então, a nossa escrita é sempre através do Google Docs, onde a gente faz comentários e todos os meus trabalhos, eu uso também.
Marcus Azevedo: Muitas reuniões online.
Bruno Victor: Muitas reuniões online, muitas!
Alan Rios: Esse aqui também foi feito no Docs então a gente está tudo em casa. E você tem um site que você gosta, Marcus?
Marcus Azevedo: Nossa, não sei um site específico. Eu acho que hoje a gente tem muitas plataformas para buscar referências, então acho que as muitas plataformas de streaming, eu acho que hoje para ver filmes com essas referências negras a TodesPlay, sabe? Eu acho que eu tenho usado muito TodesPlay e Mubi.
Júlia Rios: Que filme que já existe que vocês queriam ter feito?
Marcus Azevedo: Nossa, ah eu vou dizer um que eu vi recentemente e que eu tô muito apaixonado por ele, que é “O Dia Que Eu Te Conheci” do André Novais.
Bruno Victor: Ah, eu ia falar esse. (risos)
Marcus Azevedo: Quando eu vi esse filme eu falei: “Gente, é a vida atual, é o século XXI (vinte e um), é o romance na possibilidade das nossas crises existenciais, dos nossos remédios para ansiedade”. Eu saí daquele filme com vontade de abraçar o André e falar, “caraca, cara!”. E ao mesmo tempo de perceber o quanto ele tá super elaborando a linguagem dele de uma maneira muito gostosa de assistir, então eu acho que é o filme que, atualmente, eu falei “Caraca, queria muito ter feito esse filme gente”. A Grace Passô e aquele menino em cena daquele jeito porque ele consegue extrair daqueles meninos, daqueles atores, uma atuação de um jeito que eu falo: “Ah é esse filme que eu gosto”.
Alan Rios: E você? (Se referindo ao Bruno)
Bruno Victor: Ah eu tô pensando no “Ilha” da Glenda…
Marcus Azevedo: Sim, também adoro, do Ari Rosa e da Glenda Nicácio.
Alan Rios: E já que você está falando de referência, qual cineasta do DF vocês dois citariam como referência, uma forma de homenagem?
Bruno Victor: Ah, não tem como (não) falar da Edileuza (Penha de Souza), né? Não tem como. Eu acho que eu falo da Edileuza, assim, muitas vezes, muitas vezes. Mas olha eu agradeço muito por ter tido aula com a Dácia (Ibiapina), por ter tido aula de direção com a Dácia, por ela ter sido tão generosa. Ela mostrava o processo de montagem do “Carneiro de Ouro” na sala de aula. Ela é muito generosa, é muito bom quando você vira amigo dos seus ídolos, né? E eu acho que a Dácia, o Adirley (Queirós), a Edileuza, o Marcus (risadas), são pessoas que são as minhas maiores referências aqui no DF com certeza, sem sombra de dúvida. Tem muita gente que eu acho muito foda e que está fazendo coisas incríveis, a própria Rafa Camelo, incrível, acho ela uma cineasta muito foda, muito foda mesmo. Não sei, acho que essas são as principais referências, assim, com certeza a Edileuza.
Marcus Azevedo: É, não vai ter jeito, tem uma coisa, primeiro que a Edileuza, é isso, ela é uma referência, continua sendo, e ela é mais que uma referência, alguém com quem eu tenho uma relação muito próxima. A gente tem feito os trabalhos muito juntos, eu estive no “Filhas de Lavadeiras” e tô com ela na mostra (Mostra Competitiva de Cinema Negro Adélia Sampaio). Então ela é uma pessoa que eu estou junto em muitos projetos e na vida pessoal também.
Júlia Rios: Que filmes do DF que marcaram vocês?
Marcus Azevedo: Filmes do DF… Ah, eu não tenho como não falar do “Filhas de Lavadeiras”, foi meu primeiro grande trabalho, tive contato com mulheres muito incríveis, imagina, eu conheci a Ruth de Souza com esse filme. Então assim, pensando em vida profissional e até como referência, como aquelas histórias são muito fortes, muito interessantes. Imagina ficar a tarde toda ouvindo a Conceição Evaristo, foi um privilégio que eu tenho que agradecer a Edileuza (Penha de Souza). Então, para mim, é um filme que é referência.
Bruno Victor: Eu amo também, mas eu pensei agora na referência mais jovem também que é do “Cão Maior” que eu pensei, do Filipe (Alves). Eu amo muito esse filme. A gente passou agora na mostra Madame Satã. Acho de uma perfeição, dessa beleza do cotidiano que eu estava falando lá do Filmes de Plástico. Acho que ele trouxe também de uma forma muito linda. Foi muito bom ver um calouro meu fazendo um filme tão incrível, eu fiquei muito, tipo, que lindo que a UnB (Universidade de Brasília) sempre gerou, tem gerado e vai continuar gerando tantos cineastas poderosos, bons, sabe? Acho que a sensibilidade do Filipe nesse filme me encanta muito, ele é uma pessoa muito fofa também, gosto muito do Filipe, acho que seria o “Cão Maior” uma referência mais jovem.
Júlia Rios: O interessante é que vocês dois falaram curtas, achei isso legal. Porque tem que valorizar.
Marcus Azevedo: É uma coisa que eu consumo muito.
Júlia Rios: Tem que valorizar os curtas-metragens também.
Bruno Victor: Sim, inclusive inscrevam seus curtas-metragens lá no Cine Brasília.
Júlia Rios: Bom, verdade. Continuando então, o que desanima vocês no cenário brasileiro? Cenário audiovisual brasileiro hoje em dia? (risos)
Bruno Victor: O que me desanima?
Marcus Azevedo: Eu acho que é um longo processo entre escrever um filme, escrever um projeto e conseguir realizá-lo, assim. É um trabalho difícil (Bruno completa com: ingrato), não é fácil. É muito engraçado, até mesmo depois que você faz o filme, eu estava fazendo isso no último que eu estava gravando onde eu avisava para as pessoas que participaram, era um documentário, eu avisava: “Gente, a gente acabou de gravar, mas o filme não sai mês que vem”. É só para entender esse contexto, demora, é longo. Eu acho que esse é um contexto difícil. Acho que atualmente a gente tá com um momento positivo de muito financiamento, mas é isso, o cinema brasileiro ainda precisa criar sustentação de verdade para esses mecanismos de financiamento. E aí eu acho que eu fico pensando muito, tava pensando muito nesses últimos tempos de que quando aconteceu o que aconteceu com a série do “Afronte”, muita gente veio falar: “Ah, porque que vocês não tentam o (financiamento) privado (Bruno completa com: o financiamento coletivo) e não sei quê, não dá para ficar pensando só no Estado”. E aí na verdade agora a gente teve a prova de que sem uma política de Estado, sem política pública, o cinema não se sustenta. Então assim, eu acho que essa é uma questão para mim difícil de como são os financiamentos, de como esse processo é longo. Então você tá com muita vontade de fazer, mas nem sempre é uma linha reta, é sempre um vai e vem, então esse para mim é um processo difícil, para mim não é um processo fácil de em alguns momentos você ter que entender que tudo bem o projeto estar ali paradinho, mas não significa desistir dele.
Bruno Victor: Ai tanta coisa (risadas). Eu acho que uma das coisas que mais me desanima é que a gente não tem uma qualidade para nossos momentos de criativo, a gente sempre tá fazendo criações entre projetos, ou no meio, a gente nunca consegue ter um momento criativo que não seja corrido, que tenha um momento específico para ele, sabe? Eu acho que é muito maltratado esse momento da criação no cinema nacional, ele é sempre sofrido porque ele tem que ser entre várias coisas que você está fazendo. A gente não tem um espaço que seja frutífero para ser esse lugar de processo criativo. Parece que a gente tem que estar sempre fazendo um milhão de coisas e nesses espaços a gente encaixa o momento criativo. Eu queria que os momentos criativos tivessem um espaço só deles, eu queria ter a possibilidade de criar com mais carinho as coisas. Eu acho que a gente vai se sufocando muito nos processos criativos e isso descarreta muitas coisas, né? Exaustão mental, estafa. Às vezes a gente não fica totalmente feliz com as nossas criações porque, de fato, não teve tempo para descansar da escrita, ter um respiro entre a escrita, deixar a tinta secar. Eu acho que isso me desanima muito. A outra coisa que me desanima profundamente é o cinema ser tão inacessível. Eu acho que isso é uma coisa que desanima porque a gente fica pensando “a gente tá fazendo cinema para quem?”. Eu não queria que fosse só para festival, eu queria muito que as famílias fossem no cinema e assistissem o “Rumo”, vissem a vida da Leni (Rabi) e várias outras obras assim de uma maneira mais espontânea, sabe? Que não seja como as pessoas vão assistir todos os (filmes da) “Marvel”. Eu acho que isso me desanima porque é uma atividade que ela precisa começar na escola mesmo, eu não vejo outro lugar assim, é na escola… Cinema é educação também.
Júlia Rios: Total, eu acho também. Bons pontos, gente. E o que anima vocês?
Marcus Azevedo: Ah, o que me anima são as pessoas, são os lugares, eu acho que agora eu fui a lugares onde provavelmente eu não iria. Então eu acho que isso foi uma coisa que me animou muito. Eu chegar a lugares onde eu falei: “Nossa, ainda bem que eu vi isso aqui", sabe? É conhecer pessoas e esse encontro não é necessariamente profissional (Bruno concorda). Esse encontro é de estar num lugar e conhecer alguém que provavelmente você nunca ia esbarrar. Então eu acho que isso foi uma coisa que o cinema me possibilitou que deu um gás. Mesmo profissionalmente, a gente acaba lidando com muita gente, com profissionais de áreas muito diferentes. Então, é isso, também encontrar pessoas muito talentosas que você fala: “Cara, que bom que você tá trabalhando nisso". Então eu acho que é um ponto do cinema que me anima.
Bruno Victor: Com certeza, acho que a possibilidade do encontro é o que mais me anima também, fico pensando como é bom a gente encontrar pessoas que primeiro acreditam nos nossos projetos, é isso, né? Aquela coisa que eu falei já de conhecer as pessoas que a gente admira. Acho que o cinema faz muito isso, ele é isso. Os lugares que eu já fui e que eu vou, eu tô aqui hoje, eu pude vir para cá, graças ao cinema. Graças a vocês e ao cinema. (risadas) E ter esse momento aqui, isso me anima, na verdade, eu acho que falar sobre o nosso trabalho dá um pouco de alegria, na verdade, dá muita assim, porque eu acho que… Não sei se a gente para pensar no que a gente fez (Marcus concorda: Não) e estar aqui dá um ânimo muito bom, porque a nossa história é muito bonita. Então, anima muito os encontros. (Fala para o Marcus) É sempre bom te encontrar.
Marcus Azevedo: Sim, é até louco, porque, na verdade, quando a Helô (Heloísa Schons, produtora da temporada de Direção do Podcast) convidou eu falei: “Gente, mas o que eu tenho para falar?”.
Júlia Rios: Sempre tem (algo para falar).
Bruno Victor: É… Foi um questionamento que veio também.
Júlia Rios: Não, gente, vocês têm que valorizar, vocês mesmos falaram que vocês estão no meio da carreira, tem coisas para comentar. E é muito importante pras pessoas saberem também como começar a entender essas trajetórias. Eu acho que vocês são muito inspiradores. (Bruno e Marcus agradecem) Então, tenham essa autoestima de honrar o trabalho de vocês, né? E, também, muito feliz que vocês falam que anima vocês de estarem aqui, que bom, isso deixa a gente feliz também porque tem que ter esse espaço para valorizar os cineastas.
Alan Rios: Então, gente, a gente está chegando ao final, mas tem um momento aqui também que é muito especial que a gente faz esse círculo, já que você falou de círculo na sua resposta, a gente faz esse círculo entre perguntas e resposta de pessoas que estão aqui, que vieram aqui, e que a gente teve o prazer de receber. E vocês vão responder agora uma pergunta que foi feita por uma outra entrevistada nossa que foi a Rafaela Camelo. A Rafaela deixou uma pergunta para vocês e agora a Júlia vai ler a pergunta dela.
Júlia Rios: Gente, a Rafa quer saber qual personagem do cinema brasileiro vocês gostariam de trazer pros filmes de vocês?
Bruno Victor: Meu Deus, Rafa, que pergunta difícil! (risadas) Mas eu fiquei pensando muito que uma personagem que eu amo muito, na verdade eu amo muito esse filme que é o “Saneamento Básico” e eu amo muito o personagem da Camila Pitanga (Silene Seagal). É tipo assim, é muito perfeita, é muito perfeita, acho que eu queria muito. É muito bom, é muito perfeito esse filme eu amo muito e a personagem dela, é muito perfeita, ela é na medida, é muito bom, acho que seria ela. Não lembro o nome… É Simone Seagal?
Marcus Azevedo: Sibele alguma coisa? Ah é verdade, da atriz, né? Ela se torna uma atriz famosa. Nossa!
Bruno Victor: Ela é muito boa.
Marcus Azevedo: Então, eu pensei em duas personagens. Primeiro eu acho que o Madame Satã, porque eu acho muito transgressor, com uma história muito forte e uma personagem um pouco mais dramática como a Suely de “O Céu de Suely” porque eu sou uma pessoa dramática e ao mesmo tempo eu acho que ela é a pessoa do dia a dia, a pessoa que eu encontraria no bairro. Então, eu acho que ela é uma personagem que eu queria ter num filme.
Júlia Rios: E eu queria perguntar para vocês que pergunta vocês deixam para a Edileuza Penha de Souza que vai ser uma das nossas entrevistadas também.
Bruno Victor: A primeira pergunta é quando eu vou ter um jantar na casa dela, entendeu? Daqueles maravilhosos que só a Edileuza sabe fazer. Mas eu acho que eu queria que ela falasse qual foi a primeira vez que ela se viu como cineasta? Acho que ela, com certeza, vai ter uma fala muito bela para compartilhar.
Marcus Azevedo: Boa pergunta.
Júlia Rios: Que legal, vocês vão querer fazer uma pergunta dupla?
Marcus Azevedo: Não, eu na verdade queria saber depois dos filmes que ela já fez, o que ela ainda quer fazer? O que ainda é um desafio para ela de contar a história de mulheres negras, assim, o que ainda ela quer contar que ela não contou?
[Música Instrumental]
Alan Rios: Gente, muito obrigado pela participação de vocês aqui, foi uma honra receber vocês. Muito legal esse papo né, Júlia? Foi super legal, acho que todo mundo que assistiu vai gostar também, muito bom. Vocês com certeza vão assistir o episódio da Edileuza, né? Serão os dois primeiros a assistir. Então, muito obrigado por tudo. Como é que as pessoas te acham nas redes sociais, como é que as pessoas te acham, como é que as pessoas acompanham o seu trabalho?
Bruno Victor: É no Instagram mesmo, é @brunovctor. E é isso, lá tem meu trabalho e biscoitos. (risadas)
Marcus Azevedo: É… O meu também, eu uso mais o Instagram, @mv_mesquita e também vai ter algumas fotos de trabalho e do meu dia a dia. (risadas)
Bruno Victor: Mas é por lá que eu divulgo todas as oficinas, todas as mostras, todos os andamentos dos trabalhos, também, eu uso muito como ferramenta de trabalho mesmo de conectar com outras pessoas do cinema, enfim, acho que é o nosso LinkedIn.
Marcus Azevedo: Nossa, isso é uma coisa que eu acho que eu preciso dar uma melhorada nessa divulgação, porque é isso, no fundo eu tenho, mas eu uso bem pouco mesmo.
Júlia Rios: Queria deixar um espaço aqui para vocês deixarem considerações finais, algum comentário que vocês quiserem fazer, tem algo que a gente não abarcou que vocês queriam abarcar? A finalização de vocês.
Marcus Azevedo: Eu só queria agradecer o convite, foi muito legal, não imaginei que a gente tivesse tanta coisa para falar, tanto tempo. Agradecer por valorizar o nosso trabalho, a nossa trajetória, isso é uma coisa muito importante de fazer com que a gente pense em tudo que a gente já fez, em todos os espaços que a gente já esteve. Então, é isso, eu acho que é só mesmo agradecer isso tudo, porque foi muita, foi uma tarde onde foi muita coisa, foi muita coisa mesmo para mim. Eu gosto de estar com o Bruno. Eu olho admirado. (risadas) Não é uma coisa da boca para fora, ele sabe disso, é alguém que eu gosto muito de estar junto, então, só agradecer.
Bruno Victor: Sim, também agradecer muito, vida longa ao Podcast, que vocês tenham muitas, muitas, muitas edições. Muito obrigado, me sinto muito honrado, muito valorizado, de verdade. Revisitar tudo é muito importante, acho que a gente precisa fazer isso mesmo, revisitar, olhar nossos trabalhos e não só trabalhar. A gente tem que olhar com carinho para tudo que a gente fez. Acho que é isso, né? Acho que a nossa trajetória teve momentos muito dolorosos, de silenciamento e é muito bom tá aqui hoje. Saber que não foi o nosso trabalho que foi pro saco, mas sim quem foi pro saco foi ele (Bruno se refere a um episódio de ataque ao filme "Afronte"). Então, estou muito feliz fazendo várias coisas, vão ter muitos mais projetos, e a gente tem muita fome e muita vontade de fazer cada vez mais coisas, sabe? Acho que é isso.
Júlia Rios: Gente, foi um prazer conversar com vocês, acho que a gente teve momentos emocionantes, teve momentos engraçados, teve momentos mais tensos mas assim, foi muito bom. Tô muito feliz, que prazer conversar com vocês e conhecê-los também.
Bruno Victor: Muito feliz!
Júlia Rios: Com certeza quem escutar também vai se sentir inspirado. E fica aí o convite para acompanhar o trabalho de vocês e ver o que tá disponível, né, gratuitamente!
Bruno Victor: Sim, sim. Ah o “Afronte” é importante falar que tá na TodesPlay, né?
Marcus Azevedo: Sim na plataforma de streaming da APAN (Associação de Profissionais do Audiovisual Negro).
Júlia Rios: Que chique!
Marcus Azevedo: É um filme que tá gratuitamente lá na TodesPlay, é só se cadastrar e tem acesso a ele e a outros filmes também. É uma plataforma voltada para essa produção afro-indígena brasileira, então tem muita coisa legal lá.
[Música instrumental]
Júlia Rios: Este podcast é uma realização da Respiro Filmes com patrocínio do Fundo de Apoio à Cultura do Distrito Federal e da Secretaria de Cultura. Com pesquisa, roteiro e apresentação por Júlia Rios e Alan Rios. Direção, captação de áudio, edição e mixagem de som por Luiza Chagas. Produção de Heloísa Schons. Captação de imagem por Rômulo Aires da Ada Audiovisual e trilha por Pratanes. Agradecemos ao DAC (Decanato de Assuntos Comunitários) pela cessão do espaço e o apoio da Faculdade de Comunicação (da Universidade de Brasília). Com agradecimento especial à Denise Moraes e Dione Moura, muito obrigada por escutar a gente e até o próximo episódio. Se você não está seguindo a gente no Instagram da @respiro.filmes siga, por favor, e siga a gente também no nosso canal do YouTube (Respiro Filmes). Até mais!
