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6º EPISÓDIO - RENÉ SAMPAIO

SOBRE RENÉ SAMPAIO

René Sampaio, 50 anos, formado em Jornalismo e Publicidade na UnB, é diretor de cinema e TV e produtor. Além do cinema, possui extensa carreira na publicidade, assinando a direção de mais de 400 filmes publicitários e tendo alcançado diversos prêmios, como o Leão de Prata no Festival de Cannes, em 2005. René é sócio da produtora Barry Company e da Fogo Cerrado Filmes. Produz comerciais, conteúdos para TV e projetos para cinema. Dirigiu os filmes Eduardo e Mônica (2020), Amor ao Quadrado (2016), Faroeste Caboclo (2013), O Homem (2007), Sinistro (2000), Contatos (2000) e Antes do Fim (1995); e as séries Impuros (2018-atualmente), Amor da Minha Vida (2024-atualmente), How To Be a Carioca (2023) e Dupla Identidade (2014).

https://www.instagram.com/renesampaiocinema/

https://renesampaio.com.br/

https://barrycompany.com.br/director/rene-sampaio-2/

INFORMAÇÕES

Este episódio foi gravado em 20/01/2025.

 

FICHA TÉCNICA

Realização e Produção: Respiro Filmes.
Roteiro, Pesquisa e Apresentação: Júlia Rios e Alan Rios.
Direção, Captação de Áudio, Edição e Mixagem de Som: Luiza Chagas.
Ideia Original e Produção: Heloísa Schons.
Produção Executiva: Bruna Lopes e Arthur Lima da Iroko Projetos.
Captação de Imagem: Gabriel Machado da Ada Audiovisual.
Trilha: Pratanes.
Apoio: Anyelle Amarante.

Agradecimentos: ASCOM e Planetário de Brasília Luiz Cruls.
Supervisão Artística: Júlia Rios e Luiza Chagas.
Edição de Cortes: Pupila Audiovisual e Fernanda Coutinho.
Gestão de Redes Sociais: Babi Pinheiro.
Transcrição e Legendagem dos Episódios: Vini Moreira.
Criação de Identidade Visual e Criação da Logo: Rodrigo Camargos.
Ilustração do Copo da Temporada: Daniel Freitas.

Este projeto foi realizado com recursos do Fundo de Apoio à Cultura do Distrito Federal. 

TRANSCRIÇÃO DO EPISÓDIO
 

Júlia Rios: Antes da gente chamar nosso convidado, gostaríamos de te apresentar a locação de hoje. A gravação aconteceu no Planetário de Brasília, uma das locações do telefilme “Amor ao Quadrado”, que foi dirigido pelo nosso entrevistado. Bora conhecer nosso convidado.

[Música Instrumental]

 

Alan Rios: Oi, gente. Este é o Podcast Respiro Filmes, um podcast sobre cineastas do Distrito Federal. Estamos no Spotify, Deezer e também no YouTube. Eu sou o Alan Rios.

 

Júlia Rios: Eu sou a Júlia Rios.

 

Alan Rios: E hoje a gente tem o prazer de receber René Sampaio. René, muito obrigado.

 

René Sampaio: Prazer é todo meu de estar aqui com vocês.

 

Alan Rios: O René Sampaio tem 50 anos, é formado em Jornalismo e Publicidade na UnB (Universidade de Brasília), é diretor de cinema e TV, e produtor, né, Júlia?

 

Júlia Rios: Isso. E além do cinema, possui extensa carreira na publicidade, assinando a direção de mais de 400 filmes publicitários e tendo alcançado diversos prêmios como o Leão de Prata, no Festival de Cannes, em 2005. René também é sócio das produtoras Barry Company e da Fogo Cerrado Filmes e produz comerciais, conteúdos para TV e projetos para cinema. 

 

Alan Rios: Isso, e René, essa é sua minibio um pouco mais técnica, mas, quando a gente fala do René Sampaio, a gente está falando de quem? Quem é o René?

 

René Sampaio: Garoto que nasceu em Brasília, na Asa Norte, que sempre gostou de cinema, sempre sonhou em ser diretor. Me lembro que eu tinha 13 anos, eu fui numa agência de publicidade com meu pai e falaram: “Na agência, a gente faz isso, faz aquilo, faz aquilo outro”. Eu falei: “Cara, não queria fazer nada disso. Eu queria dirigir o filme que vocês fazem”. E ele falou: “Olha, isso é praticamente impossível”. Porque o cinema, naquela época, tinha muito pouca produção, tinha mais produção de comercial, claro. E ele falou que, enquanto você tinha uma pirâmide da galera do meio que faz redação, que cria, é muito grande e a de cinema é muito apertadinha. Sobram pouquíssimos que conseguem sobreviver. Eu falei “Não, mas é isso mesmo que eu quero fazer” e deu tudo certo.

 

Alan Rios: Muito legal.

 

Júlia Rios: Que bom que deu tudo certo e a gente está aqui hoje. E profissionalmente, o que você mais gosta de destacar do cineasta René Sampaio?

 

René Sampaio: O que eu mais gosto são as parcerias. Eu acho que, se tem uma coisa que marca o meu trabalho, é ter trabalhando com muita gente bacana, muita gente interessante, que trouxe contribuições incríveis para todos os filmes que eu fiz. Então, eu acho que, se tem uma coisa que eu acho bacana no que a gente faz, é poder juntar muita gente interessante ao redor de um mesmo projeto. E, claro, orientar a visão do diretor. O que um diretor tem de principal é ter uma visão sobre o que vai ser filmado, sobre o que vai ser contado, sobre o mundo. E essa visão guia a contribuição de todo mundo. Então, eu acho a contribuição de todos a parte mais interessante, mas, sem uma visão clara, sem um direcionamento muito específico e embasado, eu acho que a gente não tem uma marca de direção importante. Então, eu acho que é uma boa métrica entre as duas coisas.

 

Alan Rios: E, René, agora profissionalmente e pessoalmente eu queria saber o que te inspira? E, já que a gente vai falar muito sobre Brasília também falando um pouco de seus trabalhos, eu queria saber, ainda, o que te inspira em Brasília? Você pode falar pra gente um pouco sobre esses três pontos?

 

René Sampaio: Eu realmente sou fascinado pela nossa cidade. Eu já filmei em São Paulo, no Rio, no Brasil inteiro, na Amazônia. E eu acho que toda vez que eu tenho uma história, pelo menos até hoje, que eu realmente queria contar como “Eduardo e Mônica”, como “Faroeste Caboclo”, até como “Amor ao Quadrado”, que é uma história que poderia ser contada em qualquer lugar. “Amor da Minha Vida” também, é uma história que se passa em grande parte no Rio de Janeiro, mas o episódio que ela viaja a gente podia ter escolhido qualquer cidade e eu trouxe para Brasília. Eu acho que Brasília é o lugar que eu conheço tão bem que é onde eu me sinto mais confortável para falar sobre. E é de onde eu trago as lembranças dos primeiros 28 anos que eu praticamente não saí da cidade, só saí para as férias. Então, eu tenho um carinho enorme pela minha cidade e eu acho que ela é muito inspiradora e magistralmente cinematográfica. O céu, as dimensões, os grandes espaços vazios criam uma cidade cinematográfica com pessoas muito interessantes, que eu acho que, mais do que a geografia e a arquitetura, as pessoas que se fazem em Brasília, que crescem, que têm uma história em Brasília, elas talvez não percebam o tanto que elas são diferentes do resto das pessoas do mundo por estarem em Brasília. Tem várias cidades grandes da Europa em que as pessoas são praticamente iguais, o ambiente é muito igual, vai mudar a cultura de cada país, mas o ambiente não tem uma particularidade tão grande a ponto de influenciar a cultura local. E também se você for pelo Brasil, você vai encontrar muitas cidades que cada uma com suas particularidades, claro, mas que a cidade não tem tanta personalidade assim. Então, acho que Brasília é uma dessas cidades que tem muita personalidade e que muda muito a pessoa que mora aqui. Então, a cultura brasiliense é definida, também definida, pelas particularidades e pela personalidade da nossa cidade, que é muito forte.

 

Alan Rios: Que legal. No contexto mais amplo, além de Brasília, o que te inspira mais profissionalmente e pessoalmente, quais são suas referências?

 

René Sampaio: Eu gosto muito de contar uma boa história nesse sentido narrativo clássico. Claro que, por exemplo, se você assistir “Pulp Fiction”, é um dos meus filmes preferidos, por exemplo, se você buscar, é uma narrativa em algum lugar clássica, ela é desorganizada, mas ela não é destrambelhada, entende? Então, eu gosto de histórias que têm uma narrativa clássica. Ainda que seja num formato ousado, uma história que tenha começo, meio e fim, que a narrativa venha na frente da experimentação estética, por exemplo. Isso me dá mais interesse do que outros tipos de cinema que eu acho super importantes também. E que também são referência na hora de você fazer uma história com a narrativa clássica, você busca referência em coisas que não são clássicas, filmes que não são narrativos, filmes que são disruptivos. Mas, na hora de eu contar uma história, eu tenho, ao longo da minha vida, buscado sempre a narrativa clássica que se conecte com o espectador e comigo. Eu gosto de assistir filmes que eu acompanhe a história, basicamente. Então, eu sou o primeiro público de tudo que eu faço. Então, em primeiro lugar eu falo: “Pô, isso está interessante para mim? Eu estou achando legal? Está me enganando bem o suficiente?” Se sim, eu sigo em frente.

 

Júlia Rios: Você comentou um pouco já, mas como é, então, o seu processo de concepção estética de um filme ou de uma série? Você acha que você tem um estilo como diretor?

 

René Sampaio: Eu acho que estilo é quando a gente não sabe fazer de outro jeito. Então, se você olhar o jeito que eu filmo é o jeito que eu sei fazer. Então, por exemplo, você não vai encontrar um plano sequência num filme meu, porque o jeito que eu sei fazer é decupando, é cortando, é reeditando, é remontando o material. Eu adoro planos sequência no filme dos outros, só não sei fazer. Então, não é que eu não goste, é porque é uma coisa que não faz parte de mim. Quando eu começo a fazer um plano sequência, eu falo: “Se eu deixar desse jeito aqui, eu não vou conseguir cortar ali, eu não vou conseguir adiantar a velocidade. Eu não vou conseguir mudar a narrativa”. E o trabalho meu na edição é tão grande quanto na filmagem. Adoro, por exemplo, filmes de grandes planos sequência, filmes que têm narrativas até mais lentas. Mas eu gosto de poder acelerar e desacelerar. Então, a questão do estilo, do jeito que eu conto, eu filmo mais fragmentado, por exemplo. O que, às vezes, para algumas pessoas é um pouco difícil de assimilar, as repetições, o número de vezes que você faz a mesma coisa, o número de planos que você faz, mas quando vê montado, passa a fazer sentido. Alguns atores falam: “Mas já não filmamos isso?” e eu falo: “Já filmamos, mas não desse ponto de vista”. E o ponto de vista é a coisa mais importante de um diretor. Então, eu acho que essa fragmentação tem um pouco, talvez meu estilo passe por uma narrativa fragmentada, não só na hora de filmar, com vários planos e todos fazendo sentido, claro, mas também da maneira como eu monto. Por exemplo, “Faroeste Caboclo” era um filme linear, porque eu tinha material, e eu consegui fragmentar a narrativa, a gente fez com três flashbacks que foram importantíssimos na hora da montagem para reestruturar o filme e dar para ele a cadência que ele teve. E isso eu só consegui fazer por causa de um jeito que eu filmo, que não é nem certo nem errado, mas é único. Como eu disse, estilo é quando você só sabe fazer de um jeito. Eu só sei fazer desse jeito.

 

Alan Rios: E falando sobre jeito de trabalhar, a gente queria falar sobre as relações com as outras pessoas dos seus projetos. O que você preza na hora de escolher uma boa equipe para participar dos seus projetos? Você deu entrevista muito legal que você falou que tem o dom de escolher pessoas legais para trabalhar com você. (risos) Qual é o segredo para isso?

 

René Sampaio: Eu tive muita sorte de ter produtores incríveis e, esses produtores, durante muito tempo, conheciam mais equipes do que eu. Então, eu primeiro escuto o produtor, acho que o melhor amigo do diretor é o produtor. É o produtor que está do seu lado, que pega pela mão e é o cara que não quer que dê problema no seu filme. Enquanto o diretor está focado na narrativa, o produtor está focado no filme como um todo, ele quer que o filme aconteça. Um bom produtor quer que um filme aconteça bem e que a visão do diretor se realize. Então, eu acho que um dos mistérios é você encontrar um grande produtor que te ajude a encontrar a pessoa certa para aquele projeto. Então, grande parte das pessoas que eu trabalhei foram indicações de produtores. Em geral, eles indicam duas, três pessoas para cada função. Eu saio para tomar um café. Vejo o que essa pessoa já fez antes e vamos nessa. E também teve gente que o produtor falou: “Vai nessa pessoa que vai dar certo”. Eu conversei meia hora, vinte minutos com a pessoa antes e não precisei nem de outra opção. 

 

Alan Rios: Bacana. 

 

Júlia Rios: Legal. E você falou também dessas parcerias. Como é sua relação com os chefes de departamento? E, nessa relação também, você acredita que você tem que ter sempre todas as respostas para tudo? 

 

René Sampaio: (risos) Eu acho que eu tenho que ter sempre todas as perguntas. Eu gosto de pergunta. Eu gosto de não ter resposta. Eu gosto de ficar na dúvida. Eu gosto de pessoas que também têm dúvidas, mas, em algum momento, a gente tem que chegar numa conclusão. E, nesse processo de mais questionamentos, de falar: “E se a gente for por esse lugar?” “Eu tinha pensado nisso, mas o que você acha?” Aí a pessoa, em geral, acha uma coisa que eu não concordo, mas aquilo me abre uma porta para um outro lugar. Nem sempre a resposta ou a discordância é para você fazer o que a pessoa quer, mas é para você buscar dentro das suas referências, das coisas que você criou, uma outra resposta para uma pergunta original, que era a que você tinha. E eu acho que tem uma coisa importante sobre a questão de perguntas e respostas é: quando você tiver na dúvida sobre alguma coisa, volta para o início. Qual foi a primeira sensação que você teve quando você pensou em fazer esse filme? O que te levou a querer fazer esse filme? O que você tinha pensado lá atrás? Comparativamente, com as milhares de possibilidades que se abrem ao longo de um processo, comparar as novas possibilidades com o impulso original, em geral, traz a resposta correta ou a que vai te levar para um lugar mais interessante na hora de você buscar o que você tem que de fato fazer. Então, os chefes de departamento, pra mim, são importantíssimos. São grandes parceiros. Alguns viraram meus amigos pessoais, mas eu não acho que nenhum deles é obrigado a ter o filme na cabeça inteira quando começa. Prefiro até o contrário: que todos eles entrem nas dúvidas comigo e a gente tente encontrar uma maneira de contar aquela história que só existe uma vez, contada uma vez, naquele dia que a gente vai lá filmar e que as coisas acontecem.

[Música Instrumental]

 

Alan Rios: Agora falando da sua filmografia, René, a gente vai contar um pouquinho sobre os trabalhos que você já fez. Você dirigiu “Antes do Fim”, o curta de 1995, “O Homem” em 2007. Teve ainda “Contatos” em 2000. Dirigiu o telefilme “Amor ao Quadrado” em 2016 e a série “How to be a Carioca” em 2023 para a Disney Plus. Mas a gente queria falar mais especificamente de alguns outros projetos seus. A gente vai começar com “Sinistro”, né, Júlia?

 

Júlia Rios: Isso. “Sinistro”, dos anos 2000, é um curta de ficção parcialmente financiado pelo Polo de Cinema Grande Otelo, no concurso Filma Brasília, e também com recursos próprios. E hoje, ele está disponível no YouTube para quem quiser assistir. De prêmios, ele é um dos curtas mais laureados do Festival de Brasília, levou os candangos de “Melhor Filme” pelo Júri Oficial, “Melhor Direção” e mais cinco outras categorias principais. Foi premiado com dois Kikitos no Festival de Gramado e ganhou “Melhor Roteiro” no Festival de Recife. Também ganhou mais de dez prêmios em outros festivais no Brasil. (risos do René)

 

Alan Rios: Isso, e a gente quer que, para quem não conhece, você pode falar um pouquinho sobre o que o filme se trata?

 

René Sampaio: Deixa eu contar um negócio pra vocês. Essa é uma pergunta que eu não consigo responder nunca sobre nenhum filme. (risos) Inclusive, se você me perguntar assim: “Me conta a história do Faroeste Caboclo?”. Eu não sei contar. (risos) Sou péssimo contador oral das histórias. E o “Sinistro”, no caso, é um filme meio Tarantinesco, nesse sentido, ou meio como “Amores Perros”, que é tudo meio contado fora de ordem. Então, é um filme muito complexo de contar exatamente o que acontece no filme. Mas, basicamente, é uma história de dois bombeiros em Brasília que vão resgatar uma pessoa e, por negligência, essa pessoa morre. E, a partir dessa morte dessa pessoa, eles querem se livrar do corpo, porque eles não querem ter um problema nem legal e nem com o tempo, porque eles estão atrasados para o jogo do Flamengo e Gama. O Gama, naquela época, estava na Primeira Divisão do Campeonato Brasileiro e um deles é torcedor do Gama. E eles começam a fazer um monte de coisa para conseguir se livrar do corpo. E conseguem. E através desse processo, você vai descobrir quem é a pessoa que eles atropelaram. E todas as peripécias que eles fazem para se livrar do corpo levam a uma história sinistra de assassinato, de morte aqui no Distrito Federal. Então, essa pessoa que você inicia com pena dele, que é um coitado que foi mal atendido, você termina com uma outra visão sobre esse personagem. Contei muito pior do que o filme. Vale a pena assistir quem procurar nas plataformas, eu acho que é um filme divertido. E é bacana porque é um filme feito com pouquíssimos recursos e muitos amigos. Filmado em preto e branco por uma questão estética e também de produção. Falei: “Cara, para fazer esse filme aqui, para ter uma cara. Eu acho que eu precisava sair do colorido padrão, etc”. Então, nós fizemos esse filme em preto e branco. Eu acho que isso foi uma junção de elementos que fizeram o filme dar certo, mas, enfim, tem uma escolha estética que também é de orçamento. Eu achei que para esse filme daquele tamanho dar certo, que ele fosse em preto e branco. E também inspirado na escolha estética do “Cinco Filmes Estrangeiros”, que é o filme do José Eduardo Belmonte. Eu vi que ele fez, ele e o André da Cunha, que era o meu fotógrafo no “Sinistro”, tinham feito um outro filme preto e branco também e eu falei: “Cara, isso é um caminho bacana”. Então, eu também me inspiro no trabalho dos colegas para seguir adiante.

 

Alan Rios: Maravilha.

 

Júlia Rios: Legal. Agora, passando um pouco para a parte de produção, você é produtor nos seus projetos, né? Aqui em “Sinistro” você até assina produção executiva. Aí eu queria te perguntar que importância que você vê em ocupar esse lugar nas produções e perguntar também se seria uma luta também para ter direitos patrimoniais sobre as obras? Garantir essa coisa mais do direito autoral e patrimonial também como autor.

 

René Sampaio: Quando eu comecei, nunca pensei no direito patrimonial. Depois de velho que eu entendi que isso tinha uma certa importância, aliás, uma enorme importância você ser dono de um projeto seu. Mas eu já fiz coisas também como contratado, fiz “Dupla Identidade” na Rede Globo, que eu era um diretor contratado, fui chamado pelo Mauro Mendonça Filho, que era um outro diretor contratado lá, que era diretor de núcleo. “How to be a Carioca” é uma série que eu fiz contratado também, fui chamado para dirigir um ou dois episódios lá e ajudar o Carlos Saldanha na montagem do início das filmagens. Quando a gente começou, ele não estava ainda presente no Brasil, então eu cheguei um pouco antes, muito orientado por ele, claro, que era o diretor geral nesse projeto. Eu fui um diretor contratado. Então, eu acho que o espaço de diretor contratado é até um luxo. Que bom ser um diretor contratado. Quando você encontra parceiros que ou conseguiram o dinheiro ou conseguiram a história ou conseguiram várias coisas que podem possibilitar que você faça um grande trabalho de direção e conte uma boa história. Mas, nos trabalhos que eu sou produtor, é porque, quando eu vejo um trabalho que é muito importante para mim, é muito grande, eu não vejo sentido em não ser uma das pessoas que vai tomar as decisões em relação ao desenho de produção e ao dinheiro que vai ser empregado para que aquilo dê certo. Então, eu comecei a querer ser produtor e a produzir todos meus trabalhos, porque eu queria poder dizer: “Então vamos, vamos por aqui, vamos economizar o dinheiro aqui e botar o dinheiro ali”. Porque, na verdade, é isso que é ser produtor executivo. E, também, porque eu não queria ser mandado nesses projetos, no sentido de: “Não. É com esse elenco, é com essa pessoa”, que é o que acontece quando você é um diretor contratado. Você dá opinião, mas a palavra final não é sua. Mesmo assim, como produtor, eu tenho meus parceiros, eu escuto todos. Então, a gente trabalha em coletivo, mas eu tenho esse privilégio de ser também produtor e diretor desses projetos, de ter as decisões artísticas finais muito asseguradas para mim. Então, o mais importante, onde eu fui produtor, é poder preservar o diretor, é ter mais um produtor do lado do diretor, no caso, eu mesmo, e da direção. E saber que, por exemplo, todo dinheiro está sendo empregado para que o filme seja o melhor possível. E eu só trabalho com produtores nesse tipo de projeto que tem essa mesma visão sobre como empregar os recursos para que o filme seja, enfim, para que a coisa aconteça na frente da tela. Então, o meu movimento inicial foi esse. E também porque, afinal de contas, eu comecei passando sempre o cheque, desde o primeiro trabalho que eu tenho eu botei dinheiro meu para fazer, ou no desenvolvimento, ou no roteiro, ou na produção. Meu primeiro curtinha, “Antes do Fim”, fiz todo meu dinheiro, eu era moleque, eu era assistente de câmera e paguei. Juntei vários trabalhos que eu fiz assistente de câmera. Juntei o dinheiro, comprei seis latas de negativo, paguei a comida, o dinheiro da tinta que pintava o fundo de cenário e a gente fez. Então, eu venho dessa escola de investir nos próprios filmes e, desde sempre, entendo o papel do produtor, do diretor produtor, que eu acho que é uma escola que faz sentido para mim.

 

Alan Rios: Bacana. René, a gente vai falar de outras obras suas, mas me surgiu uma curiosidade: como que hoje você olha para os seus trabalhos antigos, os seus primeiros trabalhos? Porque, geralmente, quando a gente faz muita coisa, ao longo de muito tempo, a gente tem diferentes tipos de olhares para os nossos primeiros trabalhos. Às vezes, a gente tem aquele olhar, assim: “Pô, isso daqui poderia ser melhor”. Às vezes, a gente tem um olhar de muito carinho, de muito cuidado. (risada do René) Qual o seu olhar para os seus primeiros trabalhos?

 

René Sampaio: Eu morro de orgulho deles. Acho que eles me trouxeram até aqui. É engraçado que eu fico pensando assim: “O que teria sido se fosse um pouco diferente?”. Talvez teria sido melhor, pior, tanto faz, seria outra coisa. E eu acho que essa coisa me ensinou as coisas que eu precisava aprender para chegar até aqui. Então, mesmo os filmes dos quais eu não olho e falo: “Nossa, tá ótimo”, “Nossa, era isso mesmo”. Tem um monte de ensinamentos, tem um monte de coisas bacanas que fizeram... Hoje, quando eu chego para filmar alguma coisa… Essa semana eu estava filmando uma sequência que eu fiz igualzinho eu fiz em “Sinistro”. O jeito que eu filmei, eu falei: “Lembrei como é que eu fiz lá, vou fazer igual, porque isso aqui vai dar certo, porque eu estou com pouco tempo para filmar essa sequência e eu vou fazer igual aquilo lá, que eu sei que vai dar certo”. E deu certo, ficou ótima a sequência. Então, é um aprendizado que você vai melhorando uma coisinha aqui, outra coisinha ali. E eu não tenho nenhuma vergonha. Até os que não foram estelares, sabe, que não foram a nenhum lugar, são trabalhos que me dão muito orgulho. Agora, eu, de fato, tudo o que eu fiz, eu gostaria de fazer de novo. Eu olharia e falaria: “Putz, eu podia ter enquadrado diferente”, “Putz, essa sequência aqui…”. Entendeu? Eu nunca olho para um negócio e falo: “Nossa, está perfeito. Entreguei. Meu Deus, não poderia ter feito melhor”. De jeito nenhum. Mas eu também, ao longo do tempo, aprendi que é isso mesmo. O defeito faz parte do efeito. O efeito que faz nas pessoas tem a ver com as virtudes e os defeitos. Não são só as virtudes.

 

Alan Rios: Isso é muito importante.

 

Júlia Rios: Você assiste muitas vezes os trabalhos antigos, ou você para de assistir?

 

René Sampaio: Não assisto porque eu meio que já sei o que vai acontecer. (risos)

 

Júlia Rios: Vai querer fazer de novo. (risos)

 

René Sampaio: Eu, por exemplo, outro dia eu estava, depois de anos, eu estava na frente da televisão e começou a passar o “Faroeste Caboclo”. Cara, assisti inteiro, achei um filmaço. (risos) De verdade, assim, como o espectador, depois de muitos anos falei: “Gostei”. Gosto muito do jeito que ele começa, gosto das sequências iniciais. Gosto das sequências do Nordeste. Eu acho que é um filme que eu, depois de tanto tempo, eu vi com menos crítica do que quando você acaba de fazer, que você está com tudo fervendo de que você queria ter feito diferente. Eu só assisti o filme e gostei muito. Já os curtas, faz muito tempo que eu não vejo, mas eu acho que, o “Sinistro” não vejo há muito tempo. Não gosto de ficar muito assistindo de novo, sabe? Não tenho essa tara. Mas eu acho que deve ser... Sei lá, tem gente que assiste, deve ser interessante.

 

Alan Rios: Já que a gente falou de “Faroeste Caboclo”, que é um filme de 2013, vamos entrar um pouco mais nele. É um longa de ficção financiado pelo Prêmio Adicional de Renda da ANCINE (Agência Nacional do Cinema), 2008 e 2010, pelo Fundo Setorial do Audiovisual, pela Lei do Audiovisual, pela Lei de Incentivo à Cultura e pelo Fundo de Apoio à Cultura do DF.

 

Júlia Rios: Isso. Ele foi o maior vencedor da edição de 2014 do Grande Prêmio do Cinema Brasileiro. Recebeu 13 indicações e venceu sete delas, como “Melhor Longa-metragem de Ficção” e a de “Melhor Ator” para Fabrício Boliveira. Recebeu “Melhor Filme” no Prêmio FIESP/SESI de Cinema e recebeu o Prêmio Especial do Júri de “Melhor Direção” no Festival Internacional de Dallas, nos Estados Unidos. E o filme também levou um milhão e meio de espectadores ao cinema. De festivais, ele tem o destaque de ter passado no Festival de Toronto, um dos cinco maiores festivais de cinema, e ele também foi selecionado em outros 20 festivais, percorrendo a América do Sul, América Central, América do Norte, Europa e Ásia.

 

Alan Rios: E, René, como você pode explicar o “Faroeste Caboclo” para quem não viu? 

 

René Sampaio: Baseado na música, quem não viu, basta escutar a música. (risos) Baseado na música do Legião Urbana, conta a história de João de Santo Cristo, um garoto que tem várias questões na infância e na adolescência, que vira um dos maiores traficantes do Distrito Federal. Que passa por reformatório, é preso por ter vingado a morte do seu pai, o cara que matou o pai dele, ele foi lá e vingou a morte do pai dele. Ele é preso e ele vem pra Brasília quando ele sai do reformatório. Reformatório é um termo antigo que a gente define pra quando pegava o jovem que era…

 

Alan Rios: Menor infrator, né?

 

René Sampaio: Menor infrator, e colocava, acho que era FEBEM (Fundação Estadual para o Bem-Estar do Menor) ou FUNABEM (Fundação Nacional para o Bem-Estar do Menor), sei lá o que era, não lembro qual é o nome agora. Enfim, uma máquina de moer jovem pra devolver para a cidade pior do que entrou. E aí ele sai de lá e vem pra Brasília. Quando chega em Brasília, ele começa a traficar drogas e se apaixona por uma menina, que é a Maria Lúcia, que tem diversos conflitos, também, internos dela. Os dois personagens com conflitos internos muito potentes. E eles se apaixonam e esse amor proibido termina de uma maneira trágica.

 

Alan Rios: Eu queria fazer uma pergunta sobre como você pensou esse filme esteticamente e queria saber um pouco de você sobre como você... Você falou, como que você vê ele hoje, né? Que você assistiu esses dias. Então, desse olhar eu acho que a gente já matou, mas esteticamente, na hora de fazer o filme, como que você pensou ele? 

 

René Sampaio:  Começar com uma outra anedota aqui também que é o seguinte... Ontem eu fui no Letterboxd, que eu não conhecia como é que funciona, porque eu sou de outra geração (risos), e eu sei que o “Eduardo e Mônica” é um dos filmes muito bem pontuados. Sabe aquele ranking do ano? E eu fui atrás do “Faroeste Caboclo” e descobri que o “Faroeste Caboclo” tem nota menor do que “Eduardo e Mônica” e eu fiquei meio revoltado. Eu falei: “Pô, mas eu gosto tanto do ‘Faroeste Caboclo’”. Eu olhei e falei: “Por quê?”. E minha sobrinha falou: “Porque muito menos gente viu”. Que não é da época, né? O “Eduardo e Mônica” é agora. Então, as pessoas que assistem, Letterboxd, etc e tal. Assistiram e postaram. E, então, a crítica com esse filme é mais a crítica especializada. É mais gente que viu o cinema brasileiro do que a do “Eduardo e Mônica”, que é uma crítica mais popular, digamos assim. Então, popularmente, o “Eduardo e Mônica” agradou muito e o “Faroeste Caboclo” talvez tenha sofrido, nesse sentido, de uma crítica especializada que julgou lá no Letterboxd com um rigor mais técnico. Não sei nem por que estou contando isso. (risos) Só para te contar que eu fiquei chateado ontem, que eu li que tinha uma nota ruim. Que não era uma nota tão bacana quanto a do “Eduardo e Mônica”. Ainda é uma nota boa, não é uma nota ruim. Isso me levou a pensar: Como é que a gente entende essas novas mídias todas e as novas maneiras de julgar os filmes que estão por aí agora? Como é que as pessoas fazem a métrica do que vale a pena ser visto ou não ser visto, etc? Mas você perguntou sobre o que me trouxe a fazer o…

 

Alan Rios: Esteticamente, como você pensou ele?

 

René Sampaio: Quando eu ouvi a música, eu tinha 13, 14 anos de idade, mais ou menos a mesma época que eu decidi que eu ia ser diretor, e eu já vi o filme. Mas tudo bem, todo mundo viu esse filme quando ouviu “Faroeste Caboclo”. Cada um viu o seu filme. O filme que eu vi não tem nada a ver com o filme que eu fiz. O filme que eu vi com 14 anos é um filme. E o filme que eu fiz é outro filme, que equivalem a 15 anos depois de ouvir a música, tudo o que você repensou sobre o filme. E as referências estéticas evoluíram também dos 14 aos quase 40, quando eu lancei esse filme. O que eu busquei foi uma maneira brasiliense de contar essa história, que é um drama, é uma tragédia e é também um western. Tem um pouco de western, aliás, tem muito. Então, eu diria que eu busquei as referências de western que eu mais gosto, como os filmes do Sérgio Leone. Acho que o filme tem esteticamente isso, no duelo final, nas cenas iniciais, quando ele mora no sertão e vem para Brasília. Mas também tem uma coisa, um pouco de blacksploitation, do ritmo do ator principal, que ele é negro, que ele tem um mood, que ele tem uma energia e tem uma música que dialoga com isso. Tem uma estética rock'n roll também. Se, por um lado, ele procura ser realista, por ser naturalista, não sei exatamente qual termo, mas ele não abre mão de controlar um pouco o que está dentro do quadro, entende? Por exemplo, você pode optar por ser extremamente realista, indo na locação do jeito que ela é e filmando. E isso dá um tipo de filme que é interessante, que traz algumas coisas. A gente queria que a pessoa tivesse a sensação que ela está vendo aquilo de verdade, mas, ao mesmo tempo, a gente vestiu com cores, com estilo, até porque é um filme de época, de uma maneira a que aquilo tivesse um certo… não vou dizer glamour, mas que tivesse um certo mistério, entende? Você assiste o filme, você fala: “Passa verdade, mas não é o que era de verdade”. Então, eu acho que essa foi a medida que a gente buscou na hora de trazer esteticamente o filme para a tela. Eu não consigo trabalhar muito com referência, do tipo: “Estamos fazendo um filme parecido com o tal”, porque simplesmente eu nem lembro dos outros filmes, entende? Eu consigo dentro da minha cabeça entender se aquilo faz sentido ou não faz sentido pra contar aquela história. Então, eu acho que vem de uma escola de cinema latino-americano. De fazer filmes que são esteticamente bem trabalhados, mas, ao mesmo tempo, sem perder conexão com a realidade.

 

Júlia Rios: E agora, pensando no set de filmagem, queria saber se você tem estratégias na sua cabeça para captar o máximo possível, assim, pensando em otimizar tempo e dinheiro? Não sei se filmar com mais de uma câmera é uma dessas estratégias, porque, quando a gente estava fazendo a pesquisa, a gente descobriu que tem gente daqui de Brasília que te chama de René 360º (risos do René).

 

René Sampaio: É verdade.

 

Júlia Rios: Porque você aponta câmera para todos os lados. Aí queria que você comentasse sobre isso.

 

René Sampaio: (risos) É verdade. Você falou de estilo, né? Eu tenho o prazer de filmar muito, de vários pontos de vista diferentes. Cubro, faço um aberto, um médio, um fechado. "Vou por aqui", "Não, acho que por aqui". E, muitas vezes, a Letícia Giffoni, que trabalha comigo em vários projetos, ela fala que ela prefere, às vezes, pegar os últimos planos para entender o que eu queria. Porque eu vou descobrindo também enquanto eu vou fazendo, eu falo: “Não, vamos para tal lugar, vamos mudar tal coisa”. Às vezes, eu faço um plano aberto no início, aí faço os fechados. Às vezes, eu refaço o plano aberto, porque eu descobri na sequência uma coisa mais interessante ao longo da execução. Eu falo: "Então, vamos fazer o plano aberto aqui pra gente poder fazer de novo aquele trechinho". E eu filmo para muitos lados e eu filmo bastante. Em muitos projetos, eu utilizo duas câmeras porque eu acho que dá uma certa agilidade, mas tem coisas que a outra câmera atrapalha. Quando você quer chegar com a câmera perto do ator e colocar a câmera num eixo bem fechado de visão do olho dele. E isso traz uma certa proximidade para quem está vendo a cena, como você está olhando para mim agora (René aponta para Júlia, fazendo referência a posição de diálogo que eles estão, como se fosse um plano e contraplano). Eu só consigo fazer isso com uma câmera. Se eu colocar outra câmera, já não consigo botar ela nesse eixo de visão. E isso faz muita diferença. Então, eu acho que a questão das duas câmeras tem que ser usada com inteligência estética. Você não pode só sair filmando com duas câmeras o tempo inteiro, senão você vai perder algumas coisas muito importantes que você só consegue filmar se estiver fazendo com uma câmera só. Mas, em situações de televisão de muito rendimento, de muitas páginas por dia, é fundamental ter duas câmeras para você poder cumprir a diária e entregar com um material vasto para edição poder depois trabalhar. A questão de eu filmar 360º, como eles falam aqui (risos), é que eu gosto de montar. E eu gosto de refazer a história todinha, tudo que você vê, que você falou: “Nossa, que roteiro incrível” também é “que montagem incrível!”. Eu refaço a história inteira na montagem. E, para isso, eu me resguardo na filmagem de ter material, para poder ter alternativas para mudar a história na montagem. Se eu só filmar o que tem no roteiro, nos planos abertos ou de uma maneira um pouco mais simples, eu sinto que tenho menos liberdade para trabalhar depois. Então, faz parte do meu processo de montagem. Eu já filmo montando: “Preciso de um planinho aqui, porque preciso cortar aqui e esse negócio não ficou muito bom. Não tem problema, eu não preciso repetir. Basta eu filmar mais não sei o quê que eu resolvo isso na montagem”. Eu mais monto do que filmo, enquanto eu estou filmando.

 

Júlia Rios: René, você falou da montagem, você tem essa habilidade de conseguir montar o filme na sua cabeça. Aí eu queria te perguntar se isso te ajuda para saber o potencial de uma cena, talvez? Porque, às vezes, a gente filma algumas coisas que caem na montagem. Você acha que você consegue já tirar algumas coisas que você vai ver que não vai funcionar? Como é isso para você, identificar o potencial de uma cena e também a gente queria saber como é seu processo trabalhando junto com o montador?

 

René Sampaio: O primeiro corte que você faz no filme é no roteiro. Você tem que tirar. Gente, são escolas. Eu sou a favor de cortar tudo. Deixa só o osso. Filmar o mínimo possível, para filmar da melhor maneira possível. Mas, ao mesmo tempo, tem muita coisa que eu achei que não ia dar grande coisa e que deu super certo. Então, é uma métrica muito complicada. Eu, pelo menos, nunca tenho certeza absoluta se eu estou deixando a cena ou cortando a cena certa. E cenas que eu achava que não iam ser nada viraram cenas importantíssimas no filme ou esteticamente são... Ou cenas que não existiam no roteiro que a gente inventou de fazer durante: “Ah quero fazer uma cena assim, assim, assado”. Então, é um mistério o que a gente faz. E eu acho que parte do sucesso ou do insucesso é você mergulhar no mistério e ir junto com ele. Eu sei que isso é uma resposta meio vaga, mas isso vem de um pouco da insegurança que eu também tenho, que eu acho que, o que eu posso partilhar com quem tiver ouvindo, com os nossos ouvintes, é que a insegurança é parte do que a gente faz. Você tem que saber viver com ela e estar aberto para as coisas que acontecem a partir dela. Eu sou a favor de tirar o máximo possível antes, mas, ao mesmo tempo, tem uma gordura que tem que ficar. Uma coisa importante, quase todos os cursos de roteiro, analisam os filmes a partir do filme montado. “Ah, porque no filme tal, em tantos minutos, acontece tal coisa, em tantos minutos, acontece tal coisa”. Enfim, uma cagação de regra enorme sobre o que é um filme, ou uma série de sucesso, que é feita a partir do filme pronto. As pessoas deviam analisar a partir do filme rodado. Qual era o roteiro original que foi filmado, e que foi jogado um monte coisa fora que deu naquele filme. Essa é a verdadeira análise, porque isso é que é um roteiro. O roteiro não é o filme acabado. Filme acabado é outra história. E, quando você analisa, e as pessoas tentam hoje fazer com que o seu roteiro no papel seja tão eficiente quanto o filme montado, você está tirando um monte de coisa que um roteiro no papel tem que ter para você poder chegar naquele filme montado. Você precisa ter excessos, erros, coisas a mais, textos um pouco excedentes, etc, etc, para você ter material para chegar no filme montado. Se você for para o set de filmagem com um roteiro igual ao filme que você vai montar no final, muito provavelmente o seu filme vai faltar alguma coisa, porque não tem como você ter certeza absoluta. Então, eu acho que, você perguntou de montagem, eu vou voltar mais uma vez pro roteiro. O roteiro tem que ter uma certa gordura, tem que ter um certo mistério também, para você filmar um pouco a mais, para você ter para montar, para você jogar fora, para você ter para onde correr. Sequências que eu fiz para um pedaço do filme, depois eu remontei e virou outra coisa. E aí o cara analisa um filme e fala: “Ah, o roteiro tal, olha as cenas aqui”. Isso não é do roteiro. Isso é da montagem. Então, se tem uma coisa que eu tenho para criticar no processo que a gente tem trabalhado hoje em dia é que os roteiros estão querendo ser os filmes montados. E o filme montado só existe porque tinha um roteiro que era diferente, que era mais gordo, que era talvez menos preciso, mais misterioso, mas que traz a massa crítica que a gente precisa ter para fazer o filme montado. E aí o trabalho da montagem é assim, eu pego aquele roteiro, pego o que eu filmei, em geral, tento filmar quase tudo o que a gente colocou no roteiro, o que eu não cortei antes. Primeiro, eu corto tudo que eu acho que dá para cortar no roteiro sem depenar ele. Depois, eu boto na mão do montador e falo: “Pensei mais ou menos nisso”. E depois eu refaço 300 mil vezes até chegar no final. Então, eu trabalho com refação com os montadores. Refazer, remontar, refazer, remontar, até o ponto em que a gente abandona o filme.

 

Alan Rios: Isso é muito importante para quem está aprendendo a fazer cinema. E René, continuando a falar dos trabalhos mais específicos seus, a gente quer falar agora de “Dupla Identidade”, de 2014, que é uma série de suspense policial da Rede Globo, que está disponível atualmente na Globoplay, né, Júlia?

 

Júlia Rios: Isso. Ela foi uma série de enorme audiência na TV, marcou a maneira de se fazer séries no Brasil quando foi lançada, o Bruno Gagliasso recebeu quatro prêmios de “Melhor Ator” e a Débora Falabella ganhou dois prêmios de “Melhor Atriz”. E a série também recebeu três indicações de “Melhor Série” e uma indicação de “Melhor Direção” em premiações brasileiras.

 

Alan Rios: Agora, pra quem não viu, conta pra gente de "Dupla Identidade".

 

René Sampaio: (risos) Gente, vocês precisam ver as coisas, tudo que eu contar as pessoas não vão mais querer ver, porque eu conto muito mal, já falei (risadas). Mas "Dupla Identidade” é uma série sobre um serial killer, escrita pela Glória Perez, baseado em vários serial killers do mundo e é um serial killer brasileiro. E tem uma força tarefa, que tem a Luana Piovani e o Marcelo Novaes, são os dois principais, o delegado e a psicóloga, a psiquiatra forense que vem trabalhar com eles. E eles vêm tentar descobrir o que está acontecendo, que tem uma série de mulheres sendo assassinadas. E a série é um thriller que você fica na ponta da cadeira para saber se ele vai ser pego ou não vai, porque é muito hábil, e a Glória fez um puta texto bacana. E eu fui convidado pra fazer essa série pelo Mauro Mendonça Filho depois do “Faroeste Caboclo”. Mauro Mendonça Filho era diretor de núcleo, dividiu a direção generosamente comigo, me ensinou a fazer série, eu não sabia fazer série, vi como é que se fazia. É diferente fazer televisão em grande escala, com muitas páginas a serem filmadas por dia, muito diferente de fazer um longa. Mas, ao mesmo tempo, dialoga com o que a gente faz, só é diferente o processo, eu acho. E eu tive o prazer de, o Mauro ao me chamar, eu falei: “Mauro, vamos tentar trabalhar com a equipe do ‘Faroeste Caboclo’?”. Eu levei a equipe que tinha feito “Faroeste Caboclo”. Então, Tiago Marques, diretor de arte, o Gustavo Hadba, fotógrafo, e outras pessoas que foram do “Faroeste Caboclo” que foram comigo fazer “Dupla Identidade”. Eu acho que, quando você fala que mudou um pouco, é porque realmente a gente colocou uma equipe, um jeito de fazer cinema para dentro daquela série da Rede Globo naquele momento. E também a gente lançou o 4K. Foi a primeira série feita em 4K no Brasil. Então, foram vários desafios técnicos, mas também estéticos, de como fazer. E essa série tem uma coisa diferente, aí uma ideia do Mauro, ele não queria que a série fosse filmada no estúdio da Rede Globo. Então, a gente foi para locação. E isso trouxe um aprendizado, acho, para o time da Globo, do que precisa ser feito para ser muito ágil durante muitas semanas em locação. Porque a Rede Globo, naquele tempo, não sei como é agora, faz tempo que eu não trabalho lá, trabalhava muito focando em ter muitas diárias de estúdio e algumas saídas esporádicas para locação quando precisava. E a nossa série era justo o contrário. Muita locação e um pouco de estúdio.

 

Júlia Rios: Você comentou um pouco sobre como é trabalhar para TV, aí eu queria também que você, se você puder fazer uma análise de quais diferenças você enxerga do trabalho para a TV, fazendo um longa, em streaming também, nas séries.

 

René Sampaio: Eu acho que tem diferenças de ordem práticas, tipo, em TV, em geral, tem alguém pagando. Então, você não passa tanto tempo esperando para fazer um projeto que tem na sua cabeça. No projeto, se você teve uma ideia hoje, daqui a um ano e meio, dois, você consegue, se ele for aprovado, você consegue estar colocando no ar. Então, é muito diferente isso na relação do tempo. Então, a sua ansiedade em fazer. Por outro lado, o amadurecimento de um projeto de cinema, ele se beneficia do tempo que ele demora para ser financiado. Então, você também trabalha muito tempo, você está muito mais profundamente ligado. Em geral, nesse sistema no Brasil, você tem o amadurecimento que, às vezes, você não tem o mesmo tempo para ficar debruçado sobre isso na televisão. Mas, na hora de executar, para mim, é muito parecido. Eu penso como um filme, não consigo pensar numa série como: “Ah, vamos fazer de uma maneira mais mequetrefe, porque é para a televisão”. Eu penso igualzinho um filme, me gasto igualzinho um filme. A diferença básica é que a gente tem, pelo menos nas experiências que eu tive, muito mais páginas para serem filmadas no mesmo dia, porém, a gente também, em geral, tem locações que a gente entra e fica muito tempo. Então, num filme, pelo menos nos que eu fiz, a gente ia para locação, sai e vai, faz umas cenas e fica menos tempo em cada locação. Então, eu acho que também a gente consegue ter um certo rendimento. Mas, do ponto de vista estético-narrativo, eu acho que o que faz diferença é a história que você está contando. O que essa história precisa? O que aquela história precisa? Mais do que se é para televisão, streaming ou para cinema.

 

Alan Rios: Interessante. Continuando sobre as suas obras, a gente quer falar agora sobre “Impuros”, que começou em 2018, ainda está sendo filmada. Tem um filme de “Impuros” de 2019, mas a gente quer focar mais na série, que é uma série de drama policial financiada pela ANCINE (Agência Nacional do Cinema) e pela Disney Plus, com cinco temporadas disponíveis na plataforma de streaming, atualmente, e com a sexta temporada em andamento para ser lançada em breve. 

 

Júlia Rios: Isso. E “Impuros” é o conteúdo de língua não inglesa mais assistido na plataforma e é a série brasileira com maior longevidade na Disney Plus, tendo estreado em toda a América Latina. Ela foi premiada no Rio2c na categoria “Direção” e o Raphael Logam foi indicado duas vezes ao Emmy Internacional como “Melhor Ator”. E a quinta temporada foi finalista do prêmio APCA (Associação Paulista de Criticos de Arte) como “Melhor Série”. 

 

Alan Rios: Agora, já que você não gosta de falar do que se trata a série, é bom a pessoa ir lá e assistir. Que pergunta você gostaria de responder sobre essa série? (risos)

 

René Sampaio: Olha, eu queria ter a resposta de uma coisa que eu não sei, que é: “Qual é o segredo do sucesso dessa série?”. A série é um enorme sucesso. A gente fez como a gente faz qualquer trabalho, como várias pessoas fazem outros trabalhos, em outras produtoras, outras produções, que falam: “Pô, vamos dar tudo que a gente tem para dar certo”. Só que essa deu numa proporção. Desde que ela foi lançada, caiu no gosto do povo, as pessoas pirateiam a série. Eu trabalho com alguns parceiros, o Tomás Portella, que é o outro diretor, que também escreve as redações finais desde o princípio e, agora, escreve sozinho a série junto com o Rômulo Marinho, que são pessoas que fizeram várias outras coisas bacanas também. E a gente sempre fala: “Cara, onde foi que a gente acertou, nesse lugar que deu tão certo? Pelo menos que a audiência responde tão bem?”. E eu acho que tem a ver com o roteiro, que é muito bem trabalhado para surpreender o espectador, para ter muito ritmo, muitas coisas acontecendo. Tem a ver com a verdade que as cenas têm, você olha e fala: “Pô, cara, eu acho que é isso que acontece mesmo nesse lugar aí nas comunidades do Rio de Janeiro. É assim que o tráfico se estrutura”, então ele tem muita verdade. Ele busca muitas cenas que você vê no jornal. Aí você vai ver e está na série, você escreveu na série e, logo na frente, aparece no jornal um caso parecido. E os atores, a química do elenco fez também funcionar. E isso é uma coisa que acontece quando você trabalha muito e dá alguma sorte. Tem a ver com estrela. Essa série tem estrela, por algum motivo inexplicável, ao mesmo tempo, explicável pelo que te falei aqui. E um jeito de fazer com a equipe brasileira, que a gente tenta fazer as nossas cenas de ação como se fosse... A gente sempre fala: “Como é que os caras fariam em Cuba sem dinheiro?”. A gente nunca pensa em como é que faria o americano. Então, a gente tem um jeito de fazer que é um jeito brasileiro de fazer com menos dinheiro, mas que fique de verdade. Em vez de tentar inventar como é que o americano faria, porque eu não tenho dinheiro pra fazer como o americano. Mesmo que eu tenha todo dinheiro, não sou americano. Várias séries brasileiras, perdão aos meus colegas que vão... Se você se enxergar nisso e é meu colega, talvez você tenha que reavaliar. Você vê que a série tá imitando um filme gringo e ela não chega lá, porque não tem a ver com a nossa verdade, não tem a ver com o negócio. A gente tenta ao máximo não cair nesse lugar, como vários outros produtos brasileiros, como “Cidade de Deus”, nesse lugar dialoga com “Impuros”, você acredita naquelas cenas, aquilo parece de verdade e tal. O Fernando Meirelles fez como, como é que ele faz do jeito dele? A gente tem o jeito nosso de fazer “Impuros”, que eu acho que pegou na veia.

 

Júlia Rios: Você comentou um pouco também de cenas de ação e a gente queria entender isso, como é essa preparação para as cenas de ação? Até pensando também no treinamento tático do elenco, manuseio de armas, pensando os efeitos especiais também, como é isso pra você?

 

René Sampaio: Tem duas coisas que tem que ter muita preparação, cena de ação e cena de sexo. De sexo a gente pode falar no “Amor da Minha Vida”, mas é muito parecido. As cenas de ação, quando eu comecei, eu achava muito importante desenhar tudo. Hoje eu já não desenho tudo, mas eu descrevo tudo, anoto tudo. Com alguma experiência, eu não preciso desenhar, botar nos quadradinhos tudo das cenas de tiro. Mas, por exemplo, a gente foi fazer uma cena agora de que o carro cai do despenhadeiro, tem que desenhar. Não é só para você não se perder, é para que toda a equipe saiba o que está acontecendo e possa trabalhar pra dar certo. Porque as cenas de ação, em geral, são muito fragmentadas. Então, as pessoas precisam entender a importância de fazer o carro entrando da esquerda pra direita, nesse ângulo tal, porque, na próxima cena, ele vai encontrar uma câmera em outra posição, aonde a pessoa vai estar de frente e vai levar um tiro no peito. Isso tem que ser muito bem preparado, para não dar errado e pra ficar bom, porque você vai fazer de qualquer jeito e as pessoas percebem que está fazendo de qualquer jeito. O Tomás Portella, o diretor que trabalha comigo, ele fala: “Olha, a cena de ação não faz ninguém ganhar o campeonato, mas desclassifica” (risadas). Se tiver malfeito, o cara é desclassificado na hora do campeonato, entendeu? E ele tem toda razão. Então, a gente trabalha para que as cenas sejam muito críveis e elas têm que ser muito bem preparadas e conversadas com os profissionais. Tem o cara que faz a espoleta, tem o cara que dá o tiro, tem o cara que dá a facada, etc. E, uma coisa muito importante que tem no “Impuros”, não existe cena de ação por ter uma ação. Toda cena de ação tem algo muito importante em jogo com os personagens principais. Então, se acontecer tal coisa, não é só o cara que vai levar o tiro ou não, mas isso vai ocasionar um problema na família dele. Ele vai perder a esposa. Ele tem algo, além de perder o carregamento de drogas, que é muito importante e que dá pressão na cena de ação. Ele não está ali trocando tiros só porque não quer que o cara leve a droga. Ele tá trocando tiro porque, se o cara levar droga, aquilo ali significa um problema da dramaturgia pra ele, entende? Se ele perder a droga ali, nesse caso de "Impuros", por exemplo, a família dele está com uma arma na cabeça e eles vão morrer se ele não conseguir passar o carregamento. Isso é uma cena de ação que te prende. Você para até de prestar atenção se a espoleta está no lugar certo, você quer que o negócio aconteça para a família morrer ou não morrer, sei lá. Depende de quem você estiver torcendo por. 

 

Alan Rios: Maravilha. Agora, voltando aos longas, a gente vai falar de “Eduardo e Mônica”, que você falou que tem uma avaliação melhor do que “Faroeste Caboclo” no Letterboxd, (risos).

 

René Sampaio: Fiquei de cara.

 

Alan Rios: Que é um longa de ficção e financiado pelo FSA (Fundo Setorial do Audiovisual), pelo FAC DF (Fundo de Apoio à Cultura do Distrito Federal) e pela Lei do Audiovisual. Atualmente, está disponível no Globoplay.

 

Júlia Rios: Isso. Tem vários prêmios aqui também, ganhou “Melhor Filme Estrangeiro” no Festival de Edmonton, no Canadá. Ganhou cinco prêmios no Los Angeles Brazilian Film Festival, entre eles “Melhor Filme”, “Melhor Atriz” para Alice Braga. Recebeu o Prêmio de Destaque no Festival de Film Cult de Calcutá, na Índia. Também ganhou o “Melhor Filme Nacional” de 2022 pela Associação de Críticos do Cinema do Rio de Janeiro. Foi o filme mais assistido do Brasil na Globoplay em 2022 e a segunda maior bilheteria do primeiro semestre de 2022, além de ter concorrido em 11 categorias no Grande Prêmio do Cinema Brasileiro em 2023. E ele foi selecionado em pelo menos outros 22 festivais, passando pela América do Sul, América Central, América do Norte, Europa e Ásia.

 

René Sampaio: E ganhou o prêmio de “Melhor Ator”, “Atriz”, e “Melhor Elenco” pelo APCA, a Associação Paulista de Críticos de Arte, para Alice Braga e para o Gabriel Leone. Os dois foram premiados, um prêmio muito importante. E eu queria destacar que, num caso como esse, quer dizer, um filme de amor, dificilmente chega nesse lugar. Então, eu fico muito orgulhoso que, esse filme que trata de uma história teoricamente prosaica de um garoto se descobrindo como adulto e uma mulher um pouco mais velha, mas nem tanto, ainda uma jovem, se descobrindo como pessoa, tenha mexido com o coração de tanta gente e conseguido chegar nessas premiações aí, que são, pra gente, muito inesperadas e nos dão muito orgulho.

 

Alan Rios: Pô, que legal! Importante ressaltar mesmo. Quando ficou pronto o filme e você viu, qual foi a sensação? Qual foi o sentimento?

 

René Sampaio: Quando eu fiz o “Faroeste Caboclo”, a sensação foi de alívio. Porque a primeira vez que eu vi o corte, o filme não estava bom, estava tipo uma vergonha. E eu falei: “Cara, tô lascado”. “Como é que eu vou fazer?”. Trabalhei, trabalhei, trabalhei, trabalhei. Fiquei aliviado. Quando eu vi o “Eduardo e Mônica”, foi uma felicidade imensa, porque, desde o primeiro corte, o filme estava lá. Mexemos muito, cortamos cena. Mas, quando terminou “Eduardo e Mônica”, eu falei: “Cara, que felicidade, que filme gostoso de fazer, de ver e de ter feito”. Então, foi uma felicidade muito grande, mesmo, de ter chegado ao final. Foi menos sofrido, talvez por ser o meu segundo filme, do que o “Faroeste Caboclo”. 

 

Júlia Rios: Perfeito. E como é o seu processo de seleção de elenco? Você trabalha em diversas etapas? Se você quiser até comentar num geral dos projetos, pode ser de “Eduardo e Mônica” também, que é bem específico, né? Porque tem que ser uma seleção bem específica. Mas como é isso pra você, num geral?

 

René Sampaio: Os dois filmes, tanto “Faroeste Caboclo” quanto “Eduardo e Monica” são uma Love Story, tem uma história de amor envolvida, uma trágica, a outra termina de uma maneira bem mais positiva, né? Então, eu achava que o importante era encontrar um casal, não encontrar um ator ou uma atriz. Tinha que ter uma química. E eu acho que, tanto o Fabrício (Boliveira) como a Isis (Valverde) têm uma mega química, como a Alice (Braga) com o Gabriel Leone têm também uma mega química. A Bianca De Felippes, que é a minha produtora, minha grande parceira nesse filme e vários outros projetos, no “Faroeste Caboclo” também, etc. Ela sempre quis a Alice. Ela falava: “René, é a Alice”. Ela falou da Alice e eu falei: “É ela, vamos tentar a Alice de qualquer maneira”. Só que Alice não podia fazer. Ela aceitou fazer o papel e depois o filme andou. Filme brasileiro é isso, né? A gente não conseguiu o financiamento, teve que mudar a data. E, aí, quando chegou a data que ela podia fazer, que a gente ia fazer o filme, ela não podia mais fazer. E aí a gente começou a trabalhar com outras pessoas, grandes atrizes, fizeram bons testes, etc. Mas aí o filme andou mais um pouquinho. E quando a gente chegou lá na frente, na hora de fazer o filme, a atriz que tinha sido escolhida teve uma questão de produção. Teve um desentendimento, o agente dela teve um desentendimento com a produção e ela não ia mais poder fazer o filme. E aí eu falei: “Cara, vou ligar pra Alice, quem sabe ela está disponível?”. E a gente já tinha uma data, tinha que acontecer o filme ali, bem na frente. E eu peguei o telefone, falei: “Olha, o filme é assim, assim, assim. Estamos com o novo roteiro”. Ela falou: “Manda o roteiro, se eu gostar, eu faço. Tenho oito semanas entre o meu trabalho, que eu estou agora, e o meu próximo trabalho. E é exatamente a janela que vocês vão filmar”. E aí, casou. Aí eu falei: “Alice, fica tranquila. A gente vai fazer o que tiver que fazer pra fazer caber no seu tempo”. E ela abraçou o roteiro, abraçou o projeto. Foi uma grande parceira. E, sabendo que era a Alice, a gente testou alguns atores, com ela inclusive, da primeira vez que ela era a atriz escolhida para fazer. E aí, esses atores, o que tinha mais química, que era mais Eduardo impossível, era o que estava selecionado para fazer com a outra atriz teve que sair, que era o Gabriel Leone. Então, por um acaso também o Gabriel Leone, que era pra ser o Eduardo, independente de quem fosse a Alice Braga, tinha sido o cara que tinha feito o melhor teste com a Alice Braga na época em que ela era a Mônica da primeira vez que a gente ia fazer o filme. E casou tudo e deu super certo e era o casal mais Eduardo e mais Mônica impossível. Essa seleção específica teve todas essas idas e vindas. E o Gabriel Leone, que era o cara que a gente queria que fizesse o Eduardo, ele era muito moleque quando ele fez o primeiro teste. Ele era novo, tinha acabado de fazer “Verdades Secretas 1”, uma coisa assim. Mas ele queria muito fazer e ele foi fazer o teste, o teste dele foi muito ruim. O teste dele foi ruim. Chegou lá e não fez nada. Foi um negócio que foi ruim pra todo mundo, pra ele e pra gente. Continuamos fazendo o teste. E chegou no final do dia ele pediu para a produtora de elenco: “Eu posso voltar amanhã e fazer de novo o teste?”. E a produtora de elenco me falou e eu falei: “Claro”. O cara que está tão afim de fazer que quer fazer de novo. No dia seguinte, ele veio e ele arrebentou! E ele falou que estava nervoso, do tanto que ele queria ser o Eduardo. E o Gabriel, um grande ator, acho que talvez um dos melhores, eu diria o melhor, mas é porque é meu amigo (risadas). Eu trabalhei com ele, mas um dos melhores da geração dele. E foi assim que a gente fechou com esse elenco. Mas cada filme tem um processo diferente. Eu acredito no teste, no processo. Eu não faço um teste só, faço um teste, depois faço uma oficina, levo as pessoas para passarem um dia inteiro juntos fazendo os personagens, pra gente chegar, porque tem que ser bom pra todo mundo. Não adianta você chamar a pessoa para fazer um personagem e aí não é exatamente o que eu penso e essa pessoa tem umas ideias muito diferentes, não tem a mesma pulsação e a gente vai passar o quê? Oito semanas discutindo para tentar chegar num filme? Então, eu acho que você conhecer o elenco, ficar um pouco íntimo dele antes de dizer que é fulano ou ciclano é muito positivo.

 

Alan Rios: Maravilha. Agora, René, caminhando um pouquinho pro final, a gente quer falar de “Amor da Minha Vida”, de 2024, que é uma série de romance financiada pela Disney Plus, com os dez episódios da primeira temporada já disponíveis na plataforma, né, Júlia? 

 

Júlia Rios: Isso. “Amor da Minha Vida” foi indicado a “Melhor Série” e “Melhor Atriz” para Bruna Marquezine no Prêmio F5 da Folha de São Paulo e na estreia, a série rapidamente se consolidou como um dos maiores sucessos da plataforma, se posicionando entre o Top 3 dos títulos mais assistidos da semana.

 

Alan Rios: Isso, aí, nas respostas anteriores, você estava falando das especificidades de tratar algum tipo de cena. Por exemplo, as cenas de tiro, de ação e as cenas de sexo. Queria que você falasse um pouco sobre as cenas de sexo.

 

René Sampaio: A cena de sexo é igual as cenas de ação. Você não dá um tiro numa pessoa de verdade, as pessoas também não transam de verdade. Então, você não dá uma facada de verdade, então, você também não enfia a língua na boca do seu companheiro de cena, entende? É tudo marcado. E tem que ser assim. A gente sempre tem um preparador de cena de ação, o dublê e etc. Hoje em dia, os streamings trouxeram para a nossa realidade o preparador de intimidade. Que é uma pessoa que filtra um pouco, às vezes, o que o diretor quer e o que os atores estão disponíveis para fazerem, para que a cena aconteça de uma maneira delicada, ótima e que funcione bem, com tudo o que tem que trazer para você acreditar, mas de uma maneira que ninguém se sinta fisicamente vulnerável, né? Então, a gente tem trabalhado com esse preparador, que eu acho um grande ganho para que todo mundo tenha bastante segurança e firmeza, como a gente trabalha com o cara que prepara a arma, tem um cara lá que entrega: “A espoleta, está aqui, aperta assim, faz assim”. O preparador de intimidade ajuda a gente a fazer esse trabalho. Então, eu acho que é um enorme avanço e demora muito, assim como uma cena de tiro, de perseguição, é bem marcado cena à cena, pelo menos do jeito que eu faço. E isso faz com que, no começo da temporada, eu perguntei para as pessoas: “Nós vamos descobrir o que é mais difícil, se é matar ou se é amar"(risos). Porque a gente mata um monte de gente no “Impuros” e a mesma equipe praticamente estava trabalhando, que a equipe acompanha desde “Impuros”, fazendo as cenas de amor. E a gente descobriu que fazer amor é muito, muito difícil, acho que mais difícil do que dar o tiro nas pessoas. Então, foi uma série que foi um grande desafio. E, ligando a uma resposta anterior, a Bruna Marquezine também ficou íntima nossa antes de começar a fazer, a gente envolveu ela desde o princípio no projeto. O Matheus (Souza) tinha sugerido que ela participasse criativamente, participasse do roteiro. Eu falei: “Cara, vou chamar ela pra dirigir”. E ela foi co-diretora do projeto. Foi uma ideia que eu tive quando eu senti a energia que ela tinha. E a ideia dele de envolvê-la foi ótima e me levou a essa ideia de que ela fosse diretora. Eu acho que ela arrebentou. Uma coisa importante, nesse projeto, eu tinha uma diretora mulher que trabalha com a gente no “Impuros” também, a Tatiana Fragoso. Ela é de Brasília também, a Tatiana, e ela faz várias cenas de ação. Ela é uma mulher que faz tiro, porrada e bomba muito bem. É uma diretora incrível, mas também cuidou de grande parte das cenas de intimidade no “Amor da Minha Vida”. A gente achou que, pelas questões que envolvem as cenas de sexo, seria bom ter uma diretora mulher trabalhando, ou sozinha ou com a gente sempre nas cenas em que os personagens transam, etc. Então, ela preparou grande parte das cenas para que elas fluíssem muito bem.

 

Júlia Rios: Queria até elogiar essas cenas também. Eu tinha anotado: “Filma muito bem cenas de sexo” (risos).

 

René Sampaio: Tem em “Eduardo e Mônica”, tem em “Faroeste Caboclo” também, que eu fiz sozinho, mas no “Amor da Minha Vida”, como era muito elenco, muita gente, etc e tal, e pelas questões... É mais fácil eu me identificar com um casal só e trabalhar muito bem com eles do que com tantas pessoas e tantas coisas que eu, sendo diretor geral, tenho que cuidar. Então, achei que valia muito a pena ter uma pessoa dedicada a isso. E a Tatiana, o Matheus também fez cenas de sexo, todo mundo fez um pouquinho, mas a Tatiana acho que segurou o rojão para que fluísse tudo muito bem.

 

Júlia Rios: Você já até começou a comentar, pensando nessa codireção de séries, como é o alinhamento que vocês têm que ter para manter tudo na mesma unidade? Você era diretor geral, também fez a supervisão artística. Você comentou, Bruna Marquezine co-dirigiu e também tem outros diretores. Como é essa conversa?

 

René Sampaio: Num longa, em geral, você dirige sozinho e, no máximo, fala: “Vai fazer uma cena assim e assim pra mim, uma câmera extra.” Numa série, pelo número de cenas e pelo processo em que você tem menos semanas de pré-produção e depois você começa a filmar. Então, enquanto você está filmando, tem que ter um diretor produzindo o que vai ser filmado na frente. Você precisa dividir melhor o trabalho. E como é que você faz isso sem perder a identidade? Sem que cada coisa pareça feita por uma pessoa diferente? Então, o processo que eu desenvolvi é: Eu como diretor geral, junto todos os diretores nas duas, três primeiras semanas, filmo as cenas para as pessoas verem como eu acho que tem que ser filmado, o tom dos atores. Ensaio, etc. Claro, partilhando com meus outros colegas: “O que vocês acham? Vamos por aí, não sei o quê”. A gente tem um processo colaborativo, mas, no final, sou eu que estou à frente dizendo como é que tem que ser, como é que eu vejo para aquilo dar certo. Então, a gente faz o pacto de que tipo de cena tem que filmar, com que lente que vai filmar, como é que vai filmar, como é que os atores vão estar. Eu abro todas as locações novas. Então, o apartamento do Victor, fui lá e abri, eu fiz os primeiros dias. A casa da Bia, fui lá e abri, porque eu, quando abro, eu dou a cara, fecho a luz. "Isso aqui tem que ter essa cara". E aí as pessoas vão seguir atrás daquilo ali. E trabalho com o fotógrafo para que eles também entendam qual é a gramática daquela série, para que não seja cada coisa feita de um jeito. E eu acho que funciona bem. Pelo menos, os trabalhos que eu fiz que deram certo foram assim. Tanto o “Impuros”, como o “Amor da Minha Vida”, que eu não dou um episódio para cada diretor dirigir, eu distribuo cenas e a gente vai fazendo um balanço, onde tudo vai tendo mais ou menos uma mesma cara, para que não fique uma pessoa puxando toda a sardinha pro seu próprio episódio e fique um episódio muito diferente dos outros. Ao mesmo tempo, não fique também tipo ninguém se sentindo: “Poxa, o meu episódio teve menos recurso do que o do fulano”, sabe? Eu acho que é o tipo de coisa que nasce da divisão por episódio, que não nasce quando está todo mundo dirigindo junto. Todo mundo está querendo que a série inteira dê certo. Talvez você não tenha um episódio sensacional, melhor do que todos os outros, mas isso cria uma média incrível, para que o espectador assista aquilo com prazer do começo ao fim. É muito desagradável você ver uma coisa que tem altos e baixos. É melhor você ver uma puta média incrível do que ter um episódio: “O meu episódio é ótimo”. “Mas você acabou com a série, amigo, a série tem que ser toda boa”. Então, eu tento manter… Então, a gente divide as cenas. Então, é isso, eu faço o trabalho de conceber primeiro, abrir, ensaiar, colocar, todo mundo vê como é que tem que fazer. E, depois, todo mundo faz e cada um dá o seu tempero. Cada um faz a sua graça. Mas todo mundo querendo fazer a série dar certo como um todo. Então, todo mundo é diretor em todos episódios.

 

Alan Rios: Maravilha, e uma série que também aborda como é trabalhar em cinema (risos), a gente sente ali um pouco a exaustão, aquele cansaço. Queria saber, como você está? Se você se sente cansado. Se você sente essa exaustão, o que você pensa sobre isso? Você acha que são jornadas muito exaustivas, que essa é uma profissão que geralmente gera esse cansaço extremo? Quero que você fale sobre você e como um todo.

 

René Sampaio: Eu acho que é muito cansativo sim. Quando eu termino uma temporada, eu e os outros diretores, a gente está moído, mas é muito gratificante também. A gente faz porque gosta. Eu acho que, fisicamente, demanda muito. A gente tem que fazer muitas horas de filmagem no mesmo dia, concentrado. Psicologicamente é devastador o tanto que é uma máquina de moer gente e, por isso, eu me cerco de produtores que estejam sempre ao meu lado me dando apoio sem dúvida nenhuma. Então, eu tenho minhas sócias, a Krysse Mello, a Juliana Funaro, que são sócias da Barry Company, que estão sempre, eu sei que aconteça o que acontecer, elas estão do meu lado pra tentar, porque elas também sabem que aconteça o que acontecer eu também tô lá querendo fazer o melhor trabalho. Então, tenho uma relação de confiança muito grande com elas. A Bianca De Felippes também é produtora do “Eduardo e Mônica”, do “Faroeste Caboclo”, minha parceiraça. Rômulo Marinho, produtor do “Dupla Identidade”. Estou, inclusive, falando esses nomes porque acho importante que os produtores sempre desaparecem. “Quem é o diretor?”. Sem bom produtor não tem bom diretor. A vida fica muito difícil. Então, eu trabalho com essas pessoas, Fernanda Polastri, tantos produtores incríveis que trabalham comigo, que são as pessoas que fazem com que essas jornadas muito exaustivas cheguem com sucesso ao final. E que a gente sinta que está o tempo inteiro alguém dando todo o suporte pra gente conseguir chegar bem. Mas é de moer. Se é ruim pra mim, imagina pra equipe, porque os diretores ainda trocam numa série, hoje é o meu dia, o outro não. A equipe, às vezes, está direto, todos os dias. Por isso que é importante, uma dica para quem está começando: É realmente fazer o máximo para não precisar passar o horário da equipe, porque a equipe está acabada depois de 12h de filmagem, essas 12h já estão no limite do que é humanamente possível, entende? Então, tente manter o plano. Tente não mudar muito o plano de filmagem no meio, não jogar trabalho fora, porque é muito exaustivo para quem não é diretor.

 

[Música Instrumental]

 

Alan Rios: René, agora a gente está caminhando para o final, infelizmente. Muitas boas respostas. E, agora, a gente quer respostas mais rápidas de um bate e volta que nós vamos fazer, com perguntas rápidas e respostas mais rápidas, para entender um pouco mais das suas referências. E a primeira pergunta rápida que eu quero fazer é qual livro você recomendaria sobre direção?

 

René Sampaio: Eu recomendaria “A Linguagem Secreta do Cinema”, de Jean-Claude Carrière. Não acho que é o melhor livro sobre direção, mas acho que é um livro que muita gente não leu e que fala um pouco sobre o mistério de fazer cinema. Eu acho que cinema tem mistério.

 

Júlia Rios:  E que filme que já existe que você queria ter feito?

 

René Sampaio: Eu queria ter feito vários filmes, tem muito filme bom. Mas, buscando minhas tradições, queria ter feito os filmes do Kubrick. Tem muitos filmes incríveis, mas acho que “Era uma Vez no Oeste”, do Sergio Leone, deve ter sido muito divertido de fazer, porque é muito divertido de assistir. É um filme que eu gostaria de ter feito.

 

Alan Rios: Maravilha. E que filmes do DF que te marcaram?

 

René Sampaio: Cara, vou te falar, o filme que mais me marcou é um curta-metragem do José Eduardo Belmonte, chama “5 Filmes Estrangeiros”, que é um filme que eu fui assistente de direção e também fui assistente de câmera para algumas cenas e porque eu vi na tela um cinema brasiliense muito autêntico e possível de se fazer. Então, ao ver aquele filme, eu falei: “Cara, o Zé abriu um caminho para a gente passar aí. Ele está fazendo um filme, um cinema muito realizável aqui, que pode comunicar com o Brasil inteiro, com uma estética muito particular”. Então, acho que foi o filme que mais marcou, mudou minha vida ter feito e ter visto “5 Filmes Estrangeiros”, o curtinha dele.

 

Júlia Rios: Maravilha. E que cineasta do DF que você citaria como se fosse uma homenagem para essa pessoa?

 

René Sampaio: Posso citar de novo o José Eduardo Belmonte, meu grande parceiro, que me ensinou. Ele era meu veterano na Universidade de Brasília e ele me ensinou muita coisa, me botou no colo, me ajudou e até hoje é um grande parceiro. Converso com ele, produzi agora o longa dele, fui o produtor do longa dele, o filme com a Grazi Massafera, “Uma família Feliz”. Então, acho que é um cineasta inspirador para todo mundo que é do DF se inspirar. E não posso, desculpa, nosso mestre-mor, Vladimir Carvalho, que nos deixou, que é um outro cineasta incrível e que eu acho que ele que plantou a semente ou, pelo menos, regou mais a semente do cinema brasiliense, tendo vindo morar aqui, trabalhado no curso de cinema da UnB, eu acho que era pra falar um, mas eu não aguentei e falei dois. (risos)

 

Alan Rios: Perfeito. Foi bom que fica essa homenagem merecida. E, agora, a gente tem uma dinâmica em que nós entrevistamos várias pessoas ao longo dessa temporada e essas pessoas foram fazendo perguntas para outras pessoas, né, Júlia?

 

Júlia Rios: Isso. E aí a gente tem uma pergunta para você do Iberê Carvalho. Ele gostou tanto da pergunta que a Dácia fez pra ele, ele achou a pergunta dela tão generosa que ele falou que queria passar para frente (René ri). Aí ele quer saber quais são os seus próximos projetos, o que está mexendo com você atualmente para você ter vontade de fazer?

 

René Sampaio: Eu tenho um projeto da terceira música do Legião que eu estou fechando os direitos agora, que é um projeto sobre família. Eu comecei a história falando que o que mexe comigo, nesse momento, sou mexido por família, questões familiares. Então, é um filme sobre família, que eu quero fazer muito em breve, se tudo der certo. E tenho um livro que eu comprei os direitos, sempre um livro, uma adaptação. Chama “Capão Pecado”, que fala sobre a história do Capão Redondo, na perspectiva do Ferréz, que é um escritor lá do Capão Redondo, que é uma história muito, muito emocionante de um jovem que não está envolvido com o crime e quais são as alternativas para ele tentar sair daquela realidade. E tem um final muito trágico. É um best seller, é muito premiado esse livro. Eu espero estar à altura da adaptação que a gente vai fazer pra ele.

 

Alan Rios: Legal, ansiosos já.

 

Júlia Rios: Sim! A nossa próxima temporada vai ser sobre roteiro e aí a gente queria que você deixasse uma pergunta para algum roteirista daqui de Brasília, consagrado.

 

René Sampaio: Esse eu posso fazer pra câmera?

 

Alan Rios: Pode.

 

René Sampaio: Eu queria perguntar se, pra você, é importante saber o final antes de começar? Tudo o que eu fiz, até agora, eu sabia, antes de começar, onde eu queria que terminasse. E para um roteirista, eu quero saber se isso é uma prisão ou se isso é libertador? Você saber onde você vai ter que chegar.

 

Alan Rios: Ótima pergunta, muito boa. (risos)

 

Júlia Rios: Gostei tanto que talvez a gente vá perguntar isso pra todo mundo. (risos) 

 

Alan Rios: Talvez a gente inclua nas perguntas fixas. Agora, René, o momento é seu, tem alguma pergunta que a gente não fez? Algo que você queira falar? E como as pessoas podem acompanhar seu trabalho?

 

René Sampaio: Olha, eu tenho a sorte de ter vários trabalhos meus rodando em plataformas como Globoplay, Disney Plus. O “Faroeste Caboclo” já teve na Amazon, já teve na Netflix. Eu acho que grande parte dos meus trabalhos está disponível online. Os curtas devem estar no YouTube, grande parte, “Sinistro”. Se “Antes do Fim” não tiver, vou subir agora para poder botar esse curtinha. E eu acho que, hoje em dia, está tudo muito mais fácil e também, quem quiser, pode piratear à vontade (risos), que eu não tenho nenhum problema com a pirataria. Acho que faz parte do que a gente faz, então está fácil de acompanhar o que a gente vem fazendo.

 

Alan Rios: Perfeito, René. Que honra te receber. Muito obrigado!

 

Júlia Rios: Estou muito feliz com essa entrevista, foi um prazer, obrigada mesmo!

 

René Sampaio: Prazer foi meu, eu fiquei muito feliz de estar aqui com vocês. Espero ter contribuído.

 

Alan Rios: Bastante.

 

Júlia Rios: Com certeza.

 

[Música Instrumental]

 

Júlia Rios: Esse podcast é uma realização da Respiro Filmes, com patrocínio do Fundo de Apoio à Cultura do Distrito Federal e da Secretaria de Cultura. Com pesquisa, roteiro e apresentação por Júlia Rios e Alan Rios. Direção, captação de áudio, edição e mixagem de som por Luiza Chagas. Produção por Heloísa Schons. Captação de imagem por Gabriel Machado da Ada Audiovisual e trilha por Pratanes. Com apoio de Anyelle Amarante e agradecimento à Ascom e ao Planetário de Brasília Luiz Cruls, que nos recebeu. Muito obrigada por ter acompanhado a temporada de direção!

 

Alan Rios: E compartilhe esse conteúdo com quem você acha que vai gostar do que a gente faz aqui. Segue a gente nas redes sociais. Olha, a gente se encontra na segunda temporada sobre roteiristas de Brasília! Nas redes, você encontra @respiro.filmes, segue a gente no YouTube também. Até mais!

 

Júlia Rios: Tchau!

EM BREVE, TRAREMOS UMA TEMPORADA SOBRE ROTEIRO. FIQUE DE OLHO!

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